Lacan, Gödel, A ciência e a verdade
Jaques Lacan. Kurt Gödel. Teoremas de incompletude. Psicanálise. Matemática.
Jaques Lacan, o pensador que propõe um retorno às bases fundamentais da psicanálise em Freud, igualmente estipula que a matemática lhe seria cara como meio de transmissão privilegiado do saber junto à ciência moderna. O rigor dessa transmissão é o que leva esse autor a investigar os possíveis isomorfismos entre os conceitos psicanalíticos e muitos tópicos dentro das ciências exatas. Os famosos teoremas de incompletude do lógico-matemático Kurt Gödel entrariam aqui como um capítulo dessa busca. Reconhecido em tal ambiente como um verdadeiro divisor de águas, esses teoremas nunca tardam em ser citados como reveladores mesmo fora do ambiente matemático, e o próprio Lacan não se limita à indiferença. Ele faz menção ao nome de Gödel e extrai de algumas observações aparentemente modestas um apoio para sua própria teoria. Sendo que algum rebuscamento aguarda o leitor que se propõe compreender essa suposta corroboração que Gödel presta a psicanálise, introduzir o estudioso de Lacan no uso que ele faz dos teoremas de incompletude é o objetivo do presente trabalho. Para tanto, eleger-se-á um texto em particular, A ciência e a verdade, no qual o psicanalista esboça seu raciocínio de que a relação entre a psicanálise e a ciência é possível e benéfica. Cabendo aqui o espaço para localizar Gödel, deve-se questionar como apreender uma tal ideia sem incorrer na extrapolação e no abuso do saber matemático, quase corriqueiros nesse caso. Urge, para tanto, a produção de uma leitura que não sem dificuldade se equilibra entre áreas heterogêneas. Assim, esse trabalho pretende apresentar ao leitor o raciocínio subjacente aos teoremas de Gödel, familiarizá-lo quanto às pretensões matemáticas de Lacan, e indicar como se procede o uso dessa matemática implícita no texto A ciência e a verdade.