Status de selênio e insuficiência cardíaca: associações com parâmetros clínicos, nutricionais e impacto sobre desfechos clínicos
insuficiência cardíaca; selênio; biomarcadores; análise de sobrevida
A deficiência de selênio tem sido um achado frequente em indivíduos com insuficiência cardíaca (IC), porém existem lacunas na literatura sobre os fatores associados à essa condição. Adicionalmente, investiga-se o impacto do status de selênio sobre os desfechos de mortalidade e hospitalização nessa população. Esse estudo teve como objetivo avaliar o status de selênio e suas associações com parâmetros clínicos, nutricionais, bem como o impacto sobre desfechos clínicos de indivíduos com IC acompanhados ambulatorialmente com até 36 meses de seguimento. Foram estudados 80 pacientes com diagnóstico de IC, adultos e idosos de ambos os sexos, atendidos no Ambulatório Interprofissional de Insuficiência Cardíaca do Hospital Universitário Onofre
Lopes. Avaliou-se as concentrações de selênio no plasma, ingestão dietética de selênio, parâmetros sociodemográficos, antropométricos, clínicos, bioquímicos e os desfechos clínicos (hospitalização e mortalidade). O selênio no plasma foi medido por espectrometria de massa de plasma indutivamente acoplado (ICP-MS). As variáveis independentes foram analisadas de acordo com os tercis das concentrações de selênio do plasma. Modelos de regressão linear múltipla foram executados utilizando o método stepwise para determinar associações entre o selênio no plasma e as demais variáveis. A análise da Curva ROC foi realizada para definição de um ponto de corte dos valores de selênio no plasma com maior sensibilidade e especificidade para os desfechos clínicos de mortalidade e hospitalização. As relações entre o status de selênio e os desfechos clínicos foram observadas por meio da Regressão de Cox. Os pacientes com IC eram predominantemente do sexo masculino (61,3%) e com excesso de peso (52,5%). O tipo de IC mais frequente foi a de fração de ejeção reduzida (ICFEr) (53,8%), etiologia não isquêmica (55,0%) e classe funcional I (71,2%). Uma porcentagem expressiva de pacientes apresentou concentrações de selênio no plasma dentro da faixa de referência (91,2%) e a prevalência de inadequação do consumo do elemento foi de 29,12%. Em T1 de selênio no plasma, foram observadas menores concentrações das seguintes variáveis, em comparação com os demais tercis: aspartato aminotransferase (T1<T2 e T3, p=0,003 e p=0,015, respectivamente), alanina aminotransferase (T1<T2 e T3, p=0,026 e p=0,027, respectivamente) e albumina (T1<T3, p=0,01). Um aumento significativo da ferritina foi observado em T2 em relação a T3 (p=0,001). Valores de ureia foram maiores em T3 em comparação com T2 e T1 (p=0,047 e p=0,024). A análise de regressão indicou associações entre albumina (β=0,113, p<0,001; R²=0,291) e triglicerídeos (β=0,0002, p<0,021, R²=0,376) com o selênio no plasma. O ponto de corte de selênio no plasma ≥ 83,80 μg/L obtido para os indivíduos foi associado ao aumento do risco de mortalidade por todas as causas (HR 20,40; p=0,018) e hospitalizações (HR=3,62; p=0,049). Em conclusão, observou-se que a maioria dos pacientes com IC atendidos ambulatorialmente apresentou valores de selênio no plasma dentro da faixa de normalidade, destacando-se a albumina e os triglicerídeos como preditores independentes dessa variável. Além disso, o ponto de corte de selênio no plasma ≥ 83,80μg/L foi relacionado com aumento do risco de desfechos clínicos desfavoráveis nessa população.