Efeitos da terapia nutricional sobre a função renal, composição corporal e qualidade de vida de indivíduos submetidos ao transplante renal
transplante renal; dietoterapia; proteinúria; consumo alimentar; proteína.
A terapia nutricional no pós-transplante renal tardio pode promover melhora ou redução de riscos associados à função renal, como a proteinúria, que é uma condição clínica frequente após o transplante renal (TR), decorrente de diversos fatores, dentre esses, o consumo elevado de proteínas na dieta. O objetivo desse estudo foi avaliar o efeito de uma intervenção nutricional personalizada no período pós-TR tardio sobre a função renal, composição corporal e qualidade de vida de indivíduos submetidos ao TR em um Hospital Universitário de Natal/RN. Trata-se de um ensaio clínico controlado, randomizado e aleatorizado realizado com 20 pacientes, distribuídos em grupo caso (n=10) – que receberam uma intervenção nutricional composta por plano alimentar e orientações nutricionais personalizados após 60 dias de TR (1,0 g/Kg de proteína), e grupo controle (n=10) – que receberam as orientações nutricionais padronizadas do hospital, no momento da alta após o TR. Os grupos foram acompanhados nos períodos de pós-TR imediato (T0), T3, T6 e T9 meses após o TR, sendo avaliados quanto à função renal (concentrações de ureia, creatinina sérica e relação albumina-creatinina (RAC)), perfil lipídico e glicêmico, consumo alimentar (registro alimentar de 3 dias), medidas antropométricas (IMC e Circunferência da Cintura) e composição corporal (método de absorciometria por duplo feixe de raios-X). Adicionalmente, foi realizada a avaliação da qualidade de vida (SF-36), nível de atividade física (IPAQ) e rastreio
para transtornos mentais (SRQ-20). Os resultados mostram que quanto à função renal, houve redução dos valores da RAC, em ambos os grupos, até o T6, sendo mantido para o grupo caso, no T9, enquanto o grupo controle apresentou progressão dos valores nesse mesmo período. Entretanto, apenas a RAC do T0 foi correlacionada positivamente com o consumo percentual de proteína da dieta (r=0,499 e p=0,025). Quanto ao perfil lipídico, houve redução e adequação nos valores de colesterol total, LDL-c e triglicérides para o grupo caso, em todos os períodos avaliados. Por outro lado, no grupo controle, só foi percebida adequação desses parâmetros no T9. Os níveis glicêmicos, embora limítrofes no T0, mantiveram-se adequados em todos os períodos, para ambos os grupos. No T6, a glicemia média dos pacientes do grupo caso, foi correlacionada positivamente com a RAC (p=0,017). O peso corporal foi mantido no grupo caso até o T6, sendo percebido perda de peso no T9. Enquanto isso, no grupo controle, houve perda de peso até o T6 e consequente ganho de peso no T9. Não houve redução do percentual de gordura corporal no grupo caso, entretanto, as alterações na massa muscular não evidenciaram aumento do número de casos de indivíduos com sarcopenia, quando comparados com o grupo controle (p=0,747). Houve melhora da qualidade de vida para os pacientes do grupo caso, principalmente no domínio ‘vitalidade’ do componente emocional (p=0,022), por meio do SF-36, no T6. Em conclusão, observou-se que o controle na ingestão de proteínas após o TR, representa um indicativo de manutenção da função renal a longo prazo, reduzindo tendências para reflexos negativos como a proteinúria e a composição corporal dos indivíduos, melhorando a qualidade de vida e corroborando para a sobrevida do enxerto.