Metodologia Baby Food no Brasil: uma avaliação do perfil do processamento de alimentos comerciais destinados à crianças de 0 a 36 meses
Alimentos infantis, Alimentos ultraprocessados, Rotulagem nutricional.
A Assembleia Mundial da Saúde definiu estratégias para o combate à promoção inadequada de alimentos comerciais infantis, em virtude do aumento do consumo de alimentos industrializados e de suas repercussões negativas nas práticas alimentares, alertando para a necessidade de se avaliar esses alimentos. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o perfil de processamento de alimentos comerciais destinados a crianças de 0 a 36 meses e comparar as características do rótulo e do perfil nutricional segundo o tipo de processamento. Trata-se de estudo quantitativo, transversal e exploratório realizado no período de novembro/2018 a abril/2019, com análise de alimentos infantis comercializados em estabelecimentos dos bairros de maior e menor renda per capita do município de Natal-RN, Brasil, que tinham indicação no rótulo para a faixa etária de 0 a 36 meses. O desenho, a coleta e parte da análise dos dados seguiram a metodologia do estudo Baby Food desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde. As informações do rótulo foram inseridas no questionário eletrônico Baby Food sendo analisados o tipo do alimento, faixa etária, alegações de saúde, identidade visual e alegações de nutrientes. A partir da lista de ingredientes o alimento foi caracterizado pela classificação NOVA em minimamente processado, processado ou ultraprocessado. Também foi avaliada a densidade energética (kcal), gordura total (g), saturada (g) e trans (g), carboidratos (g), proteínas (g), fibra (g) e sódio (mg) nos alimentos por 100 g e por porção, sendo comparados segundo tipo de processamento. Ao todo foram consultados 100 diferentes estabelecimentos do tipo supermercados, mercadinhos, farmácias e padarias, sendo inseridos 1645 produtos com 95 alimentos diferentes. A maioria dos alimentos era do tipo substitutos do leite materno (31,6%, n=30), seguidos de alimentos à base de cereais (26,3%, n=25) e refeições à base de carne ou frango (15,8%, n=15). Em relação ao processamento, 79% (n=75) foram classificados como ultraprocessados, independente da área de alta e baixa renda, sendo a maioria do tipo substituto do leite materno, destinados a crianças menores de 12 meses, com informação visual no rótulo, fortificados com vitaminas e minerais e não possuíam alegações de saúde. Em relação ao perfil nutricional, os alimentos ultraprocessados apresentaram mediana de 472,9 Kcal/100 g e desta 8,8% eram provenientes de proteínas, 60,1% de carboidratos e 31,1% de gorduras, e apresentaram maior teor de energia, gorduras, carboidratos, proteína e sódio e menor quantidade de fibras do que os demais tipos de processamento (p<0,05). Observou-se predominância de alimentos infantis do tipo ultraprocessados no mercado, independente do poder aquisitivo da região, que apresentam em sua composição uma maior densidade energética e de perfil de gorduras, carboidratos e sódio, que podem afetar a qualidade da dieta na infância. Esses resultados servem de alerta para a adoção de estratégias complementares à regulamentação dos alimentos infantis, pois essa disponibilidade dos alimentos ultraprocessados vai de encontro às atuais estratégias de promoção à alimentação adequada e saudável para menores de 2 anos no Brasil e a recomendação da FAO que demonstra associação entre o consumo de ultraprocessados e o aparecimento de doenças crônicas e baixa qualidade da dieta, orientando que seja evitado o consumo de alimentos ultraprocessados nessa fase.