Transição Alimentar e Nutricional no Brasil: modificações temporais e espaciais.
Inquéritos Nutricionais; Estado Nutricional; Segurança Alimentar e Nutricional; Nutrição em Saúde Pública.
A Transição Alimentar e Nutricional no Brasil é complexa e determinada por múltiplos fatores que foram sendo modificados ao longo do tempo e distribuem-se de formas diferentes no espaço geográfico brasileiro. Esse trabalho teve como objetivo avaliar as modificações temporais e espaciais da prevalência de excesso de peso, disponibilidade domiciliar de alimentos, insegurança alimentar e desenvolvimento social nos diferentes níveis de agregação geográfica brasileira. Trata-se de estudo ecológico de desenho misto: (1) compreende a análise do espaço, realizada nas 27 Unidades da Federação (UF) e nas cinco macrorregiões do Brasil; e (2) compreende a investigação de tendência temporal, a partir de estudos representativos da população brasileira, desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, nos períodos de 1974-2002-2008. Avaliou-se a prevalência de excesso de peso, proporção de domicílios em situação de insegurança alimentar, aquisição per capita e a disponibilidade calórica de alimentos por tipo de processamento e o Índice de Desenvolvimento Humano. Foram utilizadas análises descritivas de frequência percentual, Compound Annual Rate; análise exploratória Panel data regression model; análise espacial univariada e bivariada, e feita a correlação espacial pelo Índice de Moran local e global. Entre 1974/2009, foi verificada redução na contribuição anual de alimentos in natura ou minimamente processados no Brasil (-0,86%/ano), sendo maior no Nordeste (-0,98%/ano) e menor no Centro-Oeste (-0,50%/ano). A disponibilidade calórica de alimentos processados e ultraprocessados aumentou no Brasil (1,09%/ano) e em todas as regiões com maior acréscimo anual no Sul (1,42%/ano) e menor no Sudeste (0,67%/ano). Nesse período, a modificação da disponibilidade dessa categoria de alimentos teve associação positiva e significativa com embutidos, queijos e outros derivados do leite, bebidas alcoólicas, margarina e refeições prontas e misturas industrializadas (p<0,001). As prevalências de excesso de peso distribuídas no mapa do Brasil demonstraram uma maior concentração no eixo centro-sul do país, com maior prevalência no Rio Grande do Sul (45,26%) e menor no Maranhão (29,65%). Verifica-se o aumento anual do excesso de peso, da aquisição per capita de alimentos processados e ultraprocessados e do IDH entre 2002 e 2009 nas UF das regiões Norte e Nordeste. Essas variações foram acompanhadas pela redução da insegurança alimentar e aquisição domiciliar per capita de alimentos in natura e minimamente processados. Observou-se correlação negativa entre as prevalências de excesso de peso e as variáveis insegurança alimentar (-0,567) e aquisição domiciliar de alimentos in natura ou minimamente processados (-0,442), e correlação positiva com aquisição domiciliar per capita de alimentos processados e ultraprocessados (0,487) no território brasileiro.