NOVOS CRIMES, VELHAS HISTÓRIAS: NELSON RODRIGUES RECONFIGURA ELECTRA
Electra, Nelson Rodrigues, Comparação diferencial.
Os mitos gregos têm sido constantemente retomados na literatura moderna. Nomes como os de Ulisses, Orfeu e Electra têm figurado em obras que, mesmo ambientadas em contextos sócio-históricos diferentes daqueles aos quais esses mitos pertencem em sua forma clássica, recorrem a essas lendas gregas para, a partir delas, criarem novas narrativas, mais próximas às comunidades discursivas às quais esses autores pertencem. A retomada, por parte de cada autor, de uma personagem clássica, inserindo-a em novo contexto propicia também um novo viés de análise para os estudos comparativos em literatura. Pois possibilita uma análise que considere não só a narrativa, mas também as características sóciodiscursivas presentes nesses textos, que também devem ser compreendidos como novos. Nesta pesquisa, nossa perspectiva é analisar o mito de Electra, tal como aparece na trilogia Oréstia (458 a.C), de Ésquilo e sua retomada brasileira: a peça Senhora dos Afogados (1950), de Nelson Rodrigues. Nosso objetivo é mostrar como o dramaturgo brasileiro retoma o mito de Electra para reconfigurá-lo e, assim, contar uma nova história, mais pertinente ao Rio de Janeiro dos anos 1950. Para a realização de nossa análise, tomamos como base a Comparação diferencial e discursiva desenvolvida por Ute Heidmann (2003; 2010; 2012) e os estudos acerca da Análise do Discurso preconizada por Dominique Maingueneau (2006).