Modelos de realizações discursivas nos benditos populares
Tradições discursivas; oralidade; benditos
Com o intuito de contribuir para o entendimento dos processos constitutivos dos textos orais, buscamos, com este trabalho, estabelecer como se estabelece os processos de formulaicidade no patrimônio imaterial religioso dos quais temos contato: os benditos populares e as novenas. Para isso, fizemos um apanhado geral sobre a realização das repetições que se estabelecem no corpus recolhido para o estudo, levando em consideração o processo das Tradições Discursivas nos textos a serem analisados. Vale salientar que o corpus é composto por benditos e novenas recolhidos no município de Lajes, no Rio Grande do Norte. Em relação ao arcabouço teórico utilizado para orientar a pesquisa, versamos nossas análises pelos pressupostos teóricos das Tradições Discursivas (TDs), com as ideias defendidas por Johannes Kabatek, além de levar em consideração os pressupostos de Paul Zumthor sobre a oralidade nos textos religiosos populares, entre outros autores citados ao longo do texto. Assim sendo, podemos dizer que, no âmbito das culturas populares, a existência dos textos orais serve para diversos objetivos interativos e isso não é diferente nos Benditos populares e nas novenas. Ainda nesse sentido, focalizando o olhar para a teoria das Tradições Discursivas (TDs), podemos verificar que os textos/discursos portam algumas tradições, o que significa que eles apresentam regularidades discursivas ou formas textuais já produzidas pela sociedade, em momentos anteriores, que permanecem ou se modifica ao longo de sua existência, assim como nos mostra Johannes Kabatek (2001, 2003, 2005 e 2006). Ainda nesse mesmo sentido, Paul Zumthor (1993) nos apresenta a ideia de que falar em “palavra”, no seu real sentido, implica em admiti-la como algo que possui um poder imensurável, que é capaz de decidir rumos no mundo e é daí que se estabelece a “riqueza das tradições orais”.