COMPETÊNCIAS E HABILIDADES EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO: O CASO DO PROJETO METRÓPOLE DIGITAL
Competências, Habilidades, Tecnologias da Informação, Cultura Digital, Conhecimentos escolares e extra-escolares
As inovações tecnológicas, vinculadas fortemente com as tecnologias da informação (TI), vêm contribuindo para a remodelagem das bases da sociedade em um ritmo acelerado, surgindo novas configurações nas formas de viver socialmente e nos processos de subjetivação dos próprios indivíduos, constituindo uma verdadeira cultura digital. Entende-se aqui por Tecnologias da informação o conjunto de tecnologias em microeletrônica, computação (hardware e software), telecomunicações, radiodifusão e optoeletrônica (Castells, 1999). Essas mudanças trouxeram forte impacto sobre o trabalho e as formas de viver dos indivíduos, sendo considerada como um novo paradigma, uma revolução informacional, marcando assim a era da informação (Castells, 1999). A ferramenta que é manejada pelo sujeito não apenas transforma o mundo como também as práticas, os modos de agir, e de processar e os próprios pensamentos dos sujeitos (Coll, C., Monero, C. & Cols, 2010). Tomando como referência a perspectiva culturalista de Valsiner (2009) o sujeito elabora e reelabora significados a partir do contato com o ambiente cotidiano (incluindo os artefatos), por meio de uma semiótica que permite tornar os sujeitos psicológicos e culturais. A acentuada disseminação das tecnologias neste contexto exige qualificação crescente, apoiada no desenvolvimento de competências. Os modelos teóricos (Zarifian, 2003; Primi & Cols, 2001) das competências enfatizam a chamada inteligência prática, traduzida essencialmente na capacidade de mobilizar instrumentalmente conhecimentos escolares e extra-escolares para a resolução de problemas significativos. Essas competências e habilidades estão relacionadas à busca de informações, resolução de problemas, tomada de decisões e criatividade. Assim, o presente estudo se fundamentará na premissa de que o conhecimento é resultado da ação sobre o mundo externo e esse conhecimento se desenvolve em razão de uma ação mediada por um artefato tecnológico ou pela linguagem. Fala-se então em uma perspectiva dialógica das competências, na qual se entende que há uma interdependência entre o conhecimento social (partilhado na cultura) e conhecimento individual, dessa maneira a análise da aprendizagem requer não apenas o sujeito individual, mas também a análise da experiência cultural, extra-escolar (Da Rocha Falcão, 2008). Sabendo-se que a educação profissional (pautada no modelo das competências), na atualidade, busca oferecer, além de uma escolaridade básica, formação mais ampla e que envolva a resolução de problemas, inovação e criatividade, esse estudo se justifica por buscar contribuir para a avaliação de competências e habilidades relevantes para a formação dos profissionais em TI. Para tanto o presente projeto se volta para um estudo de caso, representado pela experiência em andamento do Projeto Metrópole Digital, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com o intuito de prospectar estudantes do ensino médio do estado do Rio Grande do Norte para participação em curso de formação na área de TI, com vistas a atender ao futuro parque digital da cidade de Natal, e incentivar o interesse por tecnológica da informação neste adolescentes. Em face de tal experiência, foram propostas as seguintes questões de pesquisa: 1. Em que medida as competências e habilidades que foram consideradas essenciais pelos responsáveis pela prospecção de alunos como critério para a seleção de participantes na etapa de formação, se relacionou com o desempenho dos alunos esperados pelos coordenadores do curso? 2. As competências mobilizadas no referido processo de prospecção para a identificação de “talentos” em TI se relacionaram com os conteúdos e atividades formativas propostas pelo curso oferecido? Deste modo tem-se como objetivo geral explicar a relação entre os desempenhos resultantes dos conhecimentos individuais e culturais em TI (que compõe competências e habilidades extra-escolares) e a formalização técnica destas no Curso de Formação de Programadores. Os participantes do estudo foram adolescentes entre 14 e 18 que concluíram o curso em 2011.1 com ênfase nas áreas de Web e Eletrônica. A escolha do Instituto Metrópole Digital se justifica por ser uma iniciativa para identificar jovens com vocação tecnológica, de modo a desenvolver o interesse pelas tecnologias da informação e disseminar a inclusão digital. Trata-se de um estudo quantitativo cujos dados foram coletados a partir de bancos de dados virtuais (oferecidos pela equipe de prospecção, comissão permanente de vestibular da UFRN (Comperve - UFRN), superintendência de informática da UFRN e as avaliações da aprendizagem que foram respondidas pelos alunos). A partir destes dados foi organizado um banco com os dados de todos os alunos matriculados no Curso (N=1.175). Os dados que compuseram foram: escores de desempenho geral por disciplinas do curso, escores de desempenho nas provas escritas, escores de desempenho no instrumento de prospecção (utilizado para seleção dos alunos), dados sócio-demográficos e escores referentes às matrizes de competências. Após a construção do banco de dados este foi depurado de modo que pudesse fornecer dados seguros para as análises. Estes foram estandardizados em escore Z, de modo que fossem homogeneizados para as análises, os escores de desempenho foram categorizados em desempenho superior, médio e inferior (levando em conta a percentagem acumulada 33% e 66%). Foram realizadas análises estatísticas descritivas (frequências, média, moda, desvio padrão, mediana, análise qui-quadrado) e inferenciais (correlação de Spearman, anova, análise de cluster e análise de regressão). A partir das análises de correlação observou-se que houve uma baixa correlação entre os desempenhos no instrumento por matriz e as disciplinas das duas ênfases do curso. No entanto, houve uma boa correlação entre a média aritmética dos desempenhos no curso como um todo nas ênfases em web (rS=0,553) e eletrônica (rS= 556) e o instrumento de seleção, apontando que de maneira geral o instrumento apresentou- se como um preditor moderado de bom desempenho no curso. A correlação se mostrou significativa p=0,001 (p<0,05), ou seja retrata um fenômeno não casual, existe uma correlação entre o curso de uma maneira geral e o instrumento de seleção, o que não acontece se analisarmos por disciplina, ao fragmentar o curso perde-se a correlação com o instrumento. Não foram observadas correlações entre o desempenho nas disciplinas e no instrumento de prospecção o que sugere especificidades entre as duas avaliações, o instrumento apresentou uma avaliação de competências e habilidades individuais e culturais da área de TI, enquanto que a avaliação no curso forneceu uma medição da capacitação técnica destes conhecimentos. A avaliação se caracterizou por uma forma de abordar os temas de maneira tradicional tendo como foco de avaliação o conteúdo, diferentemente do instrumento de prospecção cuja proposta vai de encontro a este aspecto. De uma maneira geral as competências adquiridas a partir do contexto da cultura digital e do conhecimento individual para a resolução dos problemas propostos no instrumento de prospecção estimulou um desempenho requerido no curso de formação em TI, no entanto não se correlacionou com cada uma das disciplinas, apresentando fraca correlação entre o instrumento e cada disciplina do curso. Na etapa seguinte, será feita a análise crítica do modelo de competências e habilidades produzido pela comissão de seleção (Prospecção) do referido projeto, bem como a análise da relação entre tais competências exploradas pelo instrumento e aquelas contempladas na etapa de formação. Espera-se, com esse conjunto de informações, contribuir para o aprimoramento do modelo teórico de competências e habilidades, bem como para o aprimoramento da adequação do rol de competências proposto para o domínio da TI.