Moradores crônicos de hospital psiquiátrico: um desafio à desinstitucionalização
Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica; Hospital Psiquiátrico; Institucionalização; Cronicidade.
A existência de moradores crônicos nos hospitais psiquiátricos impõe um desafio à desinstitucionalização proposta pela Reforma Psiquiátrica, na medida em que o hospital se coloca como única alternativa assistencial, enquanto não há uma rede de serviços substitutivos suficiente para acolher essa demanda. Considerou-se relevante aprofundar o conhecimento acerca desses sujeitos que passam suas vidas isoladas pelos muros de hospitais psiquiátricos e compõem parcela significativa da população mundial. Objetivou-se investigar a problemática relativa à condição de ser morador de um hospital psiquiátrico – Hospital Dr. João Machado (HJM), na cidade de Natal/RN – por parte dos técnicos, dos familiares e dos moradores, com vistas a: definir o perfil destes; identificar a possibilidade de inserção em equipamentos sociais substitutivos; conhecer as expectativas dos moradores e familiares em relação à desinstitucionalização; investigar as demandas de cuidados e suporte social para viabilizá-la e identificar as dificuldades envolvidas nesse processo. Realizaram-se três etapas metodológicas: delineamento do perfil identificatório, sócio-econômico e clínico dos moradores do HJM; entrevistas semi-estruturadas com técnicos do HJM e entrevistas abertas com moradores e familiares. Constatou-se que a institucionalização psiquiátrica contribui para a geração de moradores crônicos nos hospitais psiquiátricos. Entre os técnicos, destacou-se a defesa pela desospitalização, mas também a existência de discursos institucionalizantes. Os familiares expuseram uma recusa à participação no cuidado e os moradores evidenciaram a vontade de sair do hospital, bem como o desejo de permanência. Verificou-se a importância: da construção de uma rede extra-hospitalar que possibilite a desinstitucionalização; da capacitação da equipe técnica em relação ao exercício de práticas desinstitucionalizantes; da orientação à família, estimulando a participação desta no cuidado; de possibilitar a apropriação de suas vidas pelos sujeitos em sofrimento mental e a expressão de seus desejos e opiniões e da efetivação de uma clínica ampliada instauradora de uma subjetividade pautada na inclusão social.