Cante a musica, moco: nos tambores da acontecencia da homidade.
masculinidade; gênero; etnocartografia; subjetividade
Esta pesquisa investiga as dinâmicas da masculinidade negra, a partir do contexto de um terreiro de candomblé ketu em terras potiguares, utilizando a etnocartografia como método. O estudo analisa como os homens negros cultuadores nessa Casa experienciam, tonalizam, modificam e performam suas masculinidades, reconfigurando ou recrudescendo normas sociais e culturais. Para tanto, se parte de uma questão e seus desdobramentos: o que o candomblé diz sobre ser um homem no mundo? E como é ser um homem negro naquele Terreiro? Esta investigação objetiva etnocartografar os elementos coloniais-capitalísticos participantes da produção de subjetividades masculinas e negras, assim como as práticas de resistência a esses elementos, em um território contextualizado. Como etapas para cumprir esse objetivo, será necessário destacar como os modos de exploração econômica, afetiva, social, cultural, etc. seguem se atualizando nos corpos de homens negros; como as subjetividades desses corpos são produzidas a partir de uma estereotipia negativa de seus valores, hábitos culturais e religiosidade, bem como identificar as práticas de resistências que surgem por meio da manutenção dos ritos afrodiaspóricos no Brasil e como isso se configura enquanto uma organização comunitária. O método foi pensado como uma "montagem clandestina", um recurso imagético que ilustra a vitalidade plástica da pesquisa. A bicicleta, que só funciona em movimento, simboliza a necessidade de um método que esteja continuamente se fazendo e se faz ao reunir pesquisador, pesquisa, referenciais e campo, para tratar secretamente das ideias, das ferramentas, das peças, das pessoas e construir um corpo poroso ao espaço investigativo que produz e às suas rotas de fuga. Essa abordagem destaca a importância de uma análise que capture a complexidade das experiências de homens negros no candomblé e as interações contínuas entre o pesquisador e o campo de estudo, perspectivando as práticas de resistência, de desobediência epistêmica e os modos de escapatória às instituições e de interroga-las. Não interessa produzir verdades concretas, mas o estudo explora a multiplicidade e a ambiguidade das práticas e identidades dos sujeitos. Essa perspectiva permite uma análise que valoriza a experiência vivida e a prática cotidiana dos homens negros no candomblé a partir da reunião de fragmentos de informações e experiências que permitam a construção de análises mais complexas em torno das masculinidades negras, tanto do/no campo, quanto do próprio pesquisador. A presença do pesquisador é vista como um processo ativo, produtor de reações e de incômodos, que não coleta dados, mas participa da formação deles e do campo de estudo, num envolvimento que permite atinar para a instabilidade dos propósitos e para a construção coletiva também dos seus resultados. A pesquisa explora práticas e territórios de resistência dos homens negros no candomblé, valorizando um exercício que reconheça a importância da experiência vivida e da prática cotidiana na formação da identidade e da masculinidade.