O ÚLTIMO GRITO: COMPREENSÕES FENOMENOLÓGICAS SOBRE IDEAÇÃO E TENTATIVA DE SUICÍDIO EM MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Violência contra a mulher, suicídio, pesquisa fenomenológica, Martin Heidegger.
Dados estatísticos revelam o aumento do fenômeno da violência contra as mulheres, em especial das Mortes Violentas por Causas Indeterminadas. O suicídio é fenômeno que também cresce no público feminino, sendo conhecido na literatura que, enquanto os homens são os que mais se suicidam, as mulheres são as que mais apresentam ideações e tentativas de suicídio. Estudos internacionais sinalizam forte relação entre histórico de violência na vida de mulheres e a propensão para comportamentos suicidas. A partir de tal realidade, é possível levantar as seguintes questões: de que modo o suicídio aparece como possibilidade concreta para mulheres em situação de violência? Qual o horizonte de sentido que enlaça mulheres violentadas à sua trama, fazendo emergir a escolha por findar o próprio existir? O objetivo dessa pesquisa, portanto, é compreender os sentidos de desistir de viver para mulheres em situação de violência. Tal estudo configura-se como uma pesquisa fenomenológica-hermenêutica, baseada na ontologia heideggeriana. Foram entrevistadas duas mulheres que vivenciaram violência doméstica e pensaram e/ou tentaram suicídio. Foi utilizado como instrumento a entrevista-narrativa, sendo solicitado que compartilhassem suas experiências. A análise se deu a partir de método inspirado no círculo hermenêutico heideggeriano, considerando o movimento compreensão-interpretação do fazer pesquisa e as afetações da pesquisadora. Como resultados, percebemos o modo como a finitude está sempre em jogo no viver das participantes: seja pelo poder-morrer da violência, ou pelo escolher-morrer do suicídio. O desenraizamento suscitado pela violência restringe radicalmente as possibilidades de projetar-se no tempo, tornando-se a antecipação do próprio morrer uma alternativa diante do esvaziamento de sentido para o viver. Espera-se que essa pesquisa possibilite uma aproximação da experiência dessas mulheres, no sentido de ampliar compreensões que favoreçam discussões e práticas voltadas ao cuidado e apoio para o enfrentamento da problemática, considerando o imbricamento da violência com a saúde mental.