ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS EM BUSCA DO BEM VIVER: SAÚDE MENTAL NA COMUNIDADE INDÍGENA “MENDONÇA DO AMARELÃO” (RN)
Saúde mental; Itinerários terapêuticos; Povos indígenas
O presente trabalho assume como objetivo construir interlocuções junto aos Potiguara Mendonça da Comunidade do Amarelão (João Câmara/RN), visando compreender os itinerários terapêuticos relativos à "saúde mental” que se produzem entre seus moradores e moradoras. Para tanto, é um estudo qualitativo e exploratório que se ampara nos estudos decoloniais, atentando à necessidade de aproximação aos conhecimentos alvo de invisibilização mediante o colonialismo. Lançamos mão, nessa esteira, de uma compreensão de saúde mental que se ampara no princípio ético-político do bem viver - sumak kawsay no Kíchwa, suma Qamaña no Aymara - que suscita a compreensão do humano enquanto parte de uma comunidade ampla em que as pessoas não apenas se relacionam umas com as outras, mas com os elementos da natureza, o território, a espiritualidade, em uma relação interdependente. Partindo dessa leitura, uma “saúde mental” indígena se torna possível por um alinhamento dos projetos de bem viver das pessoas e comunidades. Os itinerários terapêuticos, por sua vez, permitem relacionar dispositivos de cuidado formais e informais que se sucedem nos caminhos dos sujeitos no lidar com a saúde, de forma a direcionar visibilidade à pluralidade de saberes que acessam as pessoas e comunidades. Utilizamos como instrumentos de pesquisa questionário sociodemográfico, entrevistas semiestruturadas e a elaboração de diários de campo. Participaram do estudo 7 moradores e moradoras do Amarelão (RN) com idade maior que 18 anos e reconhecidos – pela comunidade ou pelos agentes de saúde do território – enquanto pessoas que passam ou passaram por situações que afetam sua saúde mental. Os achados do estudo demonstram uma não inserção da comunidade na SESAI, de modo que a atenção em saúde é estabelecida via SUS. Notamos também uma incorporação de diversos campos de saber nos itinerários dos participantes, que acessaram dispositivos como ESF, hospitais psiquiátricos e CAPS. Ao mesmo tempo, relatam a incorporação de práticas de atuação de curadores da comunidade, bem como a utilização dos chamados "remédios do mato", ligados aos saberes ancestrais do povo Mendonça. As compreensões de bem viver produzidas suscitam uma complementaridade, reciprocidade e relacionalidade que engloba vínculos comunitários e relações com a terra tecidas pelos participantes. Longe de uma generalização que deve ser estendida à totalidade do povo Mendonça, as compreensões que aqui surgem apontam possíveis caminhos de bem viveres tecidos dentro do Amarelão.