A vivência do desalento entre jovens graduados: Uma aproximação histórico-cultural
desalento; desemprego; jovens; ensino superior.
O desemprego juvenil é uma constante no Brasil e no mundo. De forma geral, a juventude é a categoria mais sensível às crises econômicas, como também a mais exposta à realidade do desemprego e da informalidade. Nesse contexto, o desalento, ou seja, a desistência por procurar uma ocupação atingiu em 2018, 2,4 milhões de jovens com idades entre 18 e 29 anos, número que tende a aumentar com o efeito da pandemia por COVID-19. Contudo, embora o desalento sempre se tenha feito presente entre o segmento juvenil, o debate acadêmico sobre o tema ainda se restringe a uma definição estatística e a proposições que apontam o investimento na qualificação como alternativa para o rompimento com a condição. No entanto, contrariando essa perspectiva a presença do desalento entre jovens com ensino superior é uma realidade que aponta para a necessidade de compreender esse fenômeno para além da sua descrição. Portanto, a partir do escopo da teoria histórico-cultural (THC) em articulação com alguns pressupostos da psicologia cultural, o objetivo geral do presente trabalho é investigar a vivência (perejivânie) do desalento diante da permanência no lugar do não trabalho ocupado por jovens com ensino superior. Para atingi-lo, pretende-se especificamente, (a) reconstruir a trajetória individual da pessoa jovem no que diz respeito à esfera do trabalho; (b) caracterizar o bloqueio de significado diante do desalento e (c) apreender a unidade quadrática de significados atribuídos pelo jovem diante daquela permanência e as ações que desenvolve para lidar com aquele bloqueio de significado. Para tanto, foram realizados dois estudos de caso com jovens em condição de desalento, por meio da condução de cinco entrevistas em profundidade com cada uma delas por meio do uso da estratégia metodológica Trajectory Equifinality Model (TEM). As entrevistas foram transcritas e a partir delas reconstruída a trajetória de cada participante, elemento este que permitiu a análise da vivência do desalento de cada uma diante da ausência de trabalho. Por fim, os achados são discutidos à luz da (THC) e permitem acessar o desalento em sua complexidade para que alternativas mais efetivas possam ser pensadas pelo jovem para lidar com a sua situação em um nível microgenético, além de em um nível social e político, mais amplo, possibilitar uma compreensão mais acurada e contextualizada sobre o fenômeno.