PRODUÇÃO DE SENTIDO EM UM GRUPO REFLEXIVO PARA HOMENS AUTORES DE VIOLÊNCIA
homens autores de violência, grupo reflexivo, produção de sentido, gênero, violência contra mulher.
Esta pesquisa procurou analisar a produção de sentidos sobre gênero e violência contra a mulher por profissionais e por homens envolvidos em um grupo reflexivo para homens autores de violência contra a mulher, na cidade de Natal/RN. Para tanto, realizou-se observação participante durante 10 sessões, com registros em diário de campo. Em um segundo momento foram feitas entrevistas semiestruturadas com dois homens integrantes do grupo e duas profissionais facilitadoras. A análise dos dados foi amparada na perspectiva do construcionismo social. Os repertórios discursivos sobre as relações de gênero e a violência contra a mulher revelam ainda ser comum os homens reforçarem modelos estereotipados, naturalizados e essencialistas de masculinidade-feminilidade. Diferentes sentidos foram produzidos pelas facilitadoras: significam as relações de gênero de forma muito semelhante às teorias feministas, ressaltando a qualidade de ser socialmente produzido e processual das construções de gênero. Apesar dessa diferença, algumas instituições em comum atravessam a produção destes sentidos, como a religião, a família e, mais recentemente, a instituição justiça. Acerca desta última, revelou-se produzir diferentes significações aos seus integrantes: ora como instância de punição ou injustiça – aos homens –, ora como espaço de reflexão e desconstrução de normas sociais – às facilitadoras. O campo e os dados das entrevistas revelaram dificuldades provenientes de diferentes ordens: tanto operacional/metodológicas, institucional/burocráticas, mas, sobretudo, de ordem relacional/afetiva, ou seja, acerca do vínculo conseguido com estes homens ser sustentado pelo frágil “acordo judicial”. De modo geral, o grupo demonstrou ser um ambiente propício de produção, circulação e atualização de repertórios discursivos, no entanto estes deslocamentos discursivos não acontecem de forma homogênea, tampouco sem dificuldades e tensões. Neste sentido, novos estudos abordando aspectos interativos e relacionais se fazem necessários para qualificar estas intervenções.