Cuidado psicossocial em saúde mental: estudo em assentamentos rurais do Rio Grande do Norte.
atenção psicossocial; saúde mental; cuidado; rural; assentamento rural
Moradores de assentamentos de reforma agrária têm uma vida marcada por condições de vida e trabalho precárias, que aliadas às barreiras no acesso às políticas e programas de saúde e assistência social, agravam as situações de vulnerabilidade psicossocial e ambiental que impactam na saúde mental. Essa pesquisa objetiva caracterizar as ofertas de cuidado desenvolvidas pelas equipes de saúde e assistência social referente às demandas de transtornos mentais comuns e uso problemático de álcool de moradores de 9 assentamentos do Rio Grande do Norte. Foram entrevistados 53 profissionais de forma individual ou em grupo de diferentes categorias profissionais. Resultados indicam que os trabalhadores vivenciam condições precárias de trabalho, traços da herança patrimonial e assistencialista que ainda persiste no campo das políticas sociais brasileiras e em especial nas gestões locais no interior do país. As equipes têm pouco conhecimento do território e das necessidades de saúde mental, o que impacta no acolhimento e cuidado ofertado. O cuidado implementado ainda corresponde à lógica biomédica, caracterizada pelo etnocentrismo, tecnicismo, biologicismo, curativismo, individualismo e especialismo, com pouca participação dos moradores e desconsideração dos saberes e práticas de cuidado tradicionais, não alcançando a resolutividade esperada. A atenção psicossocial não funciona de forma articulada apresentando problemas quanto ao seguimento e continuidade de cuidados. O cuidado psicossocial em saúde mental em contextos rurais tem como desafios a serem enfrentados a reorganização das redes de atenção, o estabelecimento de cuidados primários próximos do cotidiano das populações, a construção de práticas intersetoriais tendo em vista a multideterminação da saúde, e a educação em saúde conectada com estes contextos específicos. Em função do desconhecimento das especificidades da população assentada e da fragmentação da rede de atenção psicossocial, essas equipes não conseguem acolher e responder às necessidades em saúde mental de modo a interferir nas iniquidades em saúde.