A virada linguística e seu impacto na teorização e conceitualização em Psicologia: o caso do burnout
Psicologia Teórica e Filosófica; Virada Linguística; Análise conceitual; Burnout; Clínica da Atividade.
Pesquisas filosóficas e conceituais vêm sendo reiteradamente apontadas como necessárias na Psicologia, dada a caracterização da disciplina como excessivamente centrada no método e na coleta de dados empíricos. Em resposta a isso ocorreu ao longo das últimas décadas o surgimento de uma nova área de pesquisa, a Psicologia Teórica e Filosófica. Com o objetivo de fornecer uma introdução a esta área relativamente pouco conhecida no Brasil, destacamos alguns dos principais periódicos, programas de pós-graduação e instituições que produzem conhecimento nesta vertente no mundo, bem como apontamos para o recente surgimento de um grupo no Brasil. Procuramos delimitar o escopo e objetivo da Psicologia Teórica e Filosófica, caracterizando-a como não ligada a nenhuma filosofia da ciência específica, mas destinada a ser um espaço de reflexão necessário dentro da diversidade da psicologia. Destacamos a reformulação epistemológica da virada linguística como um acontecimento importante no plano filosófico que tem estimulado mudanças significativas na Psicologia. O cerne do modo como tomamos essa expressão é que não é possível analisar conceitos sem analisar a linguagem, atitude que decorre da compreensão de que o papel da linguagem na produção do conhecimento humano é fundamental e não instrumental. Defendemos que uma análise conceitual em Psicologia deve levar em conta as dimensões de palavra, de conceito e de metáfora de um determinado objeto psicológico e seguir seu desenrolar de transformações pela história para que este possa ser estudado teoricamente em sua devida complexidade. Colocamos essa concepção à prova através do estudo de um conceito específico, proveniente da área de psicologia do trabalho: trata-se de síndrome caracterizadora de situação de exaustão em relação à atividade laboral por parte do indivíduo-trabalhador, que recebeu nos países anglófonos a denominação de burnout (expressão que posteriormente se popularizou e passou a ser utilizada mesmo na literatura de língua não-inglesa). Procuramos identificar quais as referências bibliográficas relevantes e justificamos um projeto que aborde sua transformação ao passar da abordagem de H. J. Freudenberger para a de C. Maslach, dado que esse é o momento da criação de um instrumento de medida que se transforma na forma dominante de estudo do fenômeno. Por fim, sinalizamos que uma abordagem histórica e linguageira desta temática afetiva no trabalho pode ser construída a partir de L. Le Guillant e Y. Clot, sendo a Clínica da Atividade capaz de oferecer um contraponto ao modo anglófono de conceitualizar a questão.