Escutando professores: uma experiência orientada pela psicanálise
demanda, grafo, pré-escola, desejo do analista, fantasia inconsciente.
Introdução: Este trabalho insere-se no campo da psicanálise, numa perspectiva freudo-lacaniana e consiste na sistematização de uma experiência de escuta em grupo, realizada junto aos professores do Núcleo de Educação da Infância (NEI-CAp) da UFRN, de 2007 a 2009. Sabe-se, desde Freud, que a educação implica uma impossibilidade, visto que os ideais ordenadores de seu campo não podem ser satisfeitos completamente, o que pode resultar em mal-estar. A literatura produzida nas conexões entre educação e psicanálise é extensa e heterogênea, sua maior parte afirmando que a contribuição da psicanálise se daria no âmbito da formação dos professores, privilegiando a via do ensino de conceitos e aportes teóricos. Outras dessas produções resultam das experiências de alguns analistas que têm apostado na oferta de escuta em contextos diferentes da prática analítica em senso estrito, como respostas às demandas de educadores. Esta última posição coincide com a direção que assumimos frente à demanda de atendimento clínico individual, no Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA) da UFRN, para as crianças encaminhadas pela escola (NEI-CAp), ao respondermos com a oferta de uma escuta em grupo aos professores. Advertida do engodo de tentar responder à demanda, essa escuta aposta em fazer circular a palavra e arejar as significações. Da experiência, alguns efeitos produzidos suscitam questões relativas ao estatuto dessa escuta em grupo e de seus efeitos, exigindo um esforço de sistematização. Na revisão da literatura sobre o tema da prática analítica com grupos, tanto em Freud como em Lacan, destaca-se uma ressalva a essa vertente de trabalho, em função da tendência dos grupos ao fechamento imaginário, com efeitos de alienação coletiva. Fica a questão de se seria possível operar contra esses efeitos imaginários, preservando a singularidade. Na literatura mais recente, alguns analistas de orientação lacaniana, que têm realizado modalidades diversas de práticas com grupos, colocam em tela a função do analista e sua formação. Na invenção de novos dispositivos para a escuta analítica, fora do estrito senso de sua práxis, trata-se de reabrir a questão sobre sua especificidade e seus limites. Nesse sentido, a pesquisa em tela tem por objetivo geral: a sistematização da experiência de escuta em grupo realizada no NEI-CAp da UFRN; e, por objetivos específicos: esclarecer como opera essa escuta; e discernir o estatuto dos efeitos produzidos. Método: parte-se da indicação freudiana de que, somente a posteriori, a experiência deveria ser submetida ao crivo do pensamento sintético e adotam-se as seguintes estratégias: literalização da experiência; construção de relatos, em analogia ao caso clínico na psicanálise; questões provocadas por esses relatos incitam a um trabalho com alguns conceitos da psicanálise freudo-lacaniana, mediante os quais os fragmentos recortados da experiência possam ser esclarecidos. Um desses fragmentos –que inclui a atitude frontalmente desafiadora de três crianças, produzindo angústia nas professoras, o trabalho feito por uma destas nos encontros conosco, e os efeitos colhidos em encontros posteriores. A situação suscita um trabalho com os conceitos de transferência e de desejo na psicanálise. Outro fragmento da experiência –que traz um manejo realizado pela coordenação da escola com uma criança colostomizada; o mal-estar experimentado pelas professoras e coordenadoras; uma intervenção pontual no âmbito da escuta em grupo e o seu retorno– suscita uma abordagem ao tema angústia, suas relações com o desejo e com o gozo. Neste exame de qualificação apresenta-se a discussão realizada até o momento.