AS MÃOS QUE ALIMENTAM A NAÇÃO: UMA PERSPECTIVA DA QUALIDADE DE VIDA DO AGRICULTOR FAMILIAR ORGÂNICA
Qualidade de vida; Agricultura Familiar; Agricultura Orgânica; Desenvolvimento rural sustentável.
O conhecimento de qualidade de vida é um tema muito complexo e rico em dimensões subjetivas e culturais, entendidas em uma percepção vasta e multivariada. Considerando o meio rural a partir da agricultura, observa-se que o padrão produtivo define modificações expressivas no contexto ambiental e na qualidade de vida dos trabalhadores rurais. Este trabalho ressalta as contribuições da Agricultura Familiar Orgânica, no que concerne a auto-sustentação da propriedade agrícola, a oferta de alimentos isentos de agrotóxicos, além de salvaguardar saúde ambiental e humana, bem como questiona as repercussões negativas do Padrão Técnico Moderno e se aproxima da noção de qualidade de vida. O trabalho ressalta a racionalidade da Agricultura Familiar como favorável para a ampliação da Agricultura Orgânica por focar o aumento dos benefícios sócios-ambientais para o agricultor e o respeito à sua integridade cultural. Para explanar a relação entre qualidade de vida e Agricultura Familiar Orgânica, buscou-se verificar indicadores de qualidade de vida do agricultor familiar orgânico, averiguando em que medida suas atividades laborais podem influenciar nos agravos à saúde. A investigação, baseada em um procedimento de estudo exploratório, apoiou a articulação construída teoricamente, mostrou sua pertinência e permitiu delimitar, com maior segurança, a questão central do trabalho. O WHOQOL tratou-se do instrumento de pesquisa sobre qualidade de vida que direcionou o estudo de campo com os agricultores familiares orgânicos da cidade de Lagoa Seca/PB. Os agricultores e membros da família são oriundos das regiões rurais Almeida, Alvinho, Lagoa de Barro, Lagoa Gravatá, Oiti e Pau Ferro. A origem étnica predominante dos agricultores entrevistados é paraibana. Todos os indivíduos são casados, 67% têm o Ensino Fundamental Incompleto, e 23% dos indivíduos entrevistados possui idade entre 33 e 41 anos. O tempo médio de agricultura é de 39 anos e na agricultura familiar orgânica é de 16 anos. Na análise do trabalho se verificou que o processo de produção de verduras e frutas se divide em 08 etapas, cada uma com várias atividades: preparar a terra para o plantio; levantar as laterais dos canteiros; fofar a terra; aguar a terra; plantar as sementes de alface; tirar e plantar as mudas; colheita e transporte das caixas de plásticos. Com relação às cargas de trabalho as observações mostraram a presença de: cargas físicas, cargas mecânicas, carga psicológica e cargas ergonômicas. Os sintomas mais referidos pelos agricultores foram câimbras e fadiga nas pernas. Foi constatado que os trabalhadores improvisam equipamentos de proteção individual (EPI´S) nas suas atividades, tais como: chapéu de palha ou boné, calças longas em tecido e botas de plástico. Verificou-se a presença do trabalho coletivo em algumas atividades, como a colheita e o transporte das caixas de produtos. No que concerne a qualidade de vida percebeu-se que o Domínio Psicológico contribuiu positivamente para a Qualidade de Vida com média e desvio (17,83±12,78) e o Domínio Ambiente contribuindo negativamente para a Qualidade de Vida deste grupo (9,00±6,82). Conclui-se que a prática da Agricultura Familiar Orgânica deve ser vista como uma estratégia eficaz na promoção da qualidade de vida e de valores sociais nesse meio, uma vez que apresenta sustentabilidade socioambiental que respeita à vida e à diversidade sociocultural das populações.