INFLUÊNCIA DA FADIGA MENTAL SOB AS RESPOSTAS AFETIVAS E AVALIAÇÕES AUTOMÁTICAS ACERCA DO EXERCÍCIO FÍSICO
Exercício Físico; Fadiga Mental; Afeto; Associação Implícita; Affective-Reflective Theory
Introdução: Estudos demostram que a tomada de decisão entre se exercitar ou não pode ser influenciada de forma inconsciente pelas memórias afetivas (avaliações automáticas afetivas). Essas memórias são formadas a partir da sensação de prazer ou desprazer (afeto) sentido em experiências anteriores. Em geral, quanto maior a percepção subjetiva do esforço (PSE) menor é o afeto durante o exercício. Sabe-se que o estado de fadiga mental pode acentuar a PSE, no entanto, a possível influência da fadiga mental sob o afeto e consequentemente sob as avaliações automáticas afetivas ainda não foram estudadas até o presente momento. Objetivo: Investigar a influência da fadiga mental sob o afeto durante o exercício físico, e os efeitos de se exercitar neste estado mental sob as avaliações automáticas afetivas acerca do exercício. Métodos: Trata-se de um estudo com delineamento experimental, cruzado, aleatorizado e contrabalanceado. A amostra foi constituída de 12 adultos jovens (6 mulheres e 6 homens; idade :24,9 ± 2,9; IMC: 24,2 ± 2,6) insuficientemente ativos fisicamente (não atingiram as recomendações mínimas da ACSM para exercícios moderados/vigorosos nos últimos 3 meses). O estudo foi dividido em três visitas distintas. A primeira visita serviu para a familiarização com as escalas de afeto e PSE, obtenção das avaliações automáticas afetivas (avaliada através do teste de associação implícita) e realização do teste de esforço máximo. A segunda e terceira visita corresponderam a condição experimental e controle (realizadas em ordem aleatorizada e contrabalanceada). Na condição experimental os voluntários foram submetidos a 30 minutos de teste cognitivo exigente antes de realizarem 20 minutos de exercício físico moderado. Já na condição controle os voluntários assistiram 30 minutos de um documentário neutro antes dos 20 minutos de exercício. O nível de fadiga mental foi aferido através da escala visual analógica de fadiga no início de cada sessão, depois do teste stroop e documentário e após o teste físico. O afeto e a PSE foram avaliados a cada dois minutos durante os 20 minutos de exercício físico. Já as avaliações automáticas afetivas foram aferidas através do teste de associação implícita na primeira visita, antes do teste stroop e do documentário e 5 minutos após o termino do exercício físico nas duas condições. A ANOVA de duas vias para medidas repetidas (condição x tempo) e o post-hoc de Bonferroni foram utilizados para comparar o nível de fadiga mental entre as duas condições antes e após o tratamento (teste cognitivo e filme documentário) e para comparar a associação implícita em 3 momentos (na primeira visita, antes e após cada sessão). Já para avaliar a diferença do afeto e PSE entre as condições durante o exercício foi utilizado o teste T pareado (para os dados não paramétricos foi utilizado o teste de Wilcoxon). O nível de significância adotado foi de p<0,05. Resultados: Foi observado um efeito do tempo (F(1,11)= 8,12, p<0,01) e interação condição x tempo para a fadiga mental (F(1,11)= 4,40, p=0,04). O nível de fadiga mental aumentou apenas após o teste cognitivo realizado na condição experimental (p<0,01), e este aumento foi significantemente diferente da condição controle (diferença média= 2,40; p=0,04). Também foi observada uma diferença significante no afeto (experimental: 0,52 ± 2,00 vs controle: 2,08 ± 1,66; Z=-2,40, p=0,01) e PSE (experimental: 12,08 ± 1,83 vs controle: 10,93 ± 1,56; t(11)= 2,28, p=0,04) durante o exercício entre as condições. Não foi observado efeito do tempo e interação tempo e grupo para a associação implícita. Conclusão: O estado de fadiga mental de fato diminui a percepção de prazer durante o exercício, no entanto, esta diminuição não influenciou de forma aguda nas avaliações automáticas afetivas acerca do exercício físico.