CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL E MODELAGEM MATEMÁTICA DE TEIAS TRÓFICAS COMO FERRAMENTAS PARA O ENTENDIMENTO DE UM PROCESSO DE PERDA DE DIVERSIDADE DE ESPÉCIES DE UMA LAGOA TROPICAL
modelo ecotrófico, conhecimento ecológico local, introdução de espécies exóticas
A diversidade de espécies de peixes da América do Sul vem sendo afetada por diversas práticas antrópicas. Alguns estudos têm documentado a influência que as transferências de espécies exóticas exercem sobre as teias tróficas de lagoas continentais. A perda de riqueza da ictiofauna e consequente desarticulação da pesca têm sido evidenciadas nestes casos. O nordeste brasileiro apresenta lagoas para as quais foram transferidas espécies exóticas amazônicas, como a Lagoa de Extremoz. Estes ambientes servem como modelo de estudo para fins de comparação e investigação dos possíveis impactos decorrentes destas introduções. Testamos a hipótese de que a perda de riqueza da ictiofauna e consequente desarticulação da pesca artesanal exibem relação temporal com a inserção do gênero Cichla, comumente documentado como predador de topo em seu ambiente endêmico. Também objetivamos investigar se o tucunaré amazonense apresenta impacto direto para as outras espécies que utilizam a lagoa como habitat. Para tanto, utilizamos dois modelos: (a) modelo baseado no conhecimento ecológico local para a recuperação de dados pretéritos e (b) modelo ecotrófico atual. Durante um ciclo anual, efetuamos 4 amostragens de fitoplâncton, zooplâncton e peixes para construção do modelo b. Concomitantemente, efetuamos entrevistas com a comunidade de pescadores para construção do modelo a. Segundo os resultados obtidos, pode-se inferir que existe coincidência temporal entre a queda de riqueza da ictiofauna e a inserção do tucunaré na lagoa de Extremoz. Porém, Cichla kelberi não foi indicado como fator principal para que este declínio viesse a ocorrer. A construção da ponte Newton Navarro, localizada no rio Potengi, foi apontada pelos entrevistados como fator primário para que o número de espécies diminuísse neste ambiente. A migração de peixes de água salgada e/ou provenientes do rio para a lagoa de Extremoz parece ter sido impedida com os impactos causados por esta obra civil, especialmente no que diz respeito à inserção dos pilares de base de sustentação da ponte. Outros trabalhos documentam a inadequação destas estruturas às necessidades da ictiofauna. Este estudo encontra-se em andamento, porém, com a compilação e interpretação da totalidade dos resultados encontrados, pretende-se gerar soluções para rearticulação de pesca artesanal da comunidade de Extremoz.