ANÁLISE TEMPORAL DA MORTALIDADE MATERNA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Mortalidade materna. Epidemiologia. Assistência à saúde. Obstetrícia.
Introdução: a gestação é uma fase repleta de mudanças e que envolve não só a mulher, mas todo meio ao seu redor. Quando pensamos na morte materna, devemos refletir sobre as conseqüências que envolvem esse fato e abala toda uma família. Cerca de 830 mulheres vão a óbito diariamente devido situações evitáveis relativas à gestação e ao parto. Objetivo: analisar a evolução temporal da mortalidade materna entre faixas etárias e sua correlação com variáveis de pré-natal e parto, no estado do Rio Grande do Norte no período de 2000 a 2019. Metodologia: Trata-se de um estudo ecológico, do tipo série temporal, baseado em dados secundários, com o total de registros de óbitos maternos e total de nascidos vivos notificados, obtidos a partir do Sistema de Informações de Nascidos Vivos e Sistema de Informação de Mortalidade. Foi realizada a análise de tendência através da regressão linear generalizada, método de Prais-Winsten e a correlação entre a mortalidade materna e variáveis de pré-natal e parto, com o Coeficiente de Correlação de Spearman. Além do emprego dos testes de Qui-quadrado, Fisher, Wilcoxon, Kruskal Wallis e Dunn para analisar as características demográficas, o tipo de causa obstétrica, as causas obstétricas diretas e indiretas, e as regiões de saúde, de acordo com faixa etária materna. O nível de significância foi de 5%. Os dados foram tabulados no programa Microsoft Office Excel (versão 365) e analisados estatisticamente no software R (versão 3.5.3.). O projeto dispensou a submissão em Comitê de Ética e Pesquisa por tratar dados secundários de domínio público. Resultados: no período de 2000-2019, evidenciou-se 495 casos de óbitos maternos no estado, com predominância de mulheres de 25 a 29 anos; autodeclaradas pardas; solteiras; instrução ignorada; tipo de causa de óbito direta, sendo os distúrbios hipertensivos a principal causa direta, seguido pelas hemorragias. A região Metropolitana obteve o mais expressivo número de óbitos como região de residência e de ocorrência do óbito. A Razão de Mortalidade Materna variou de 24,93 para 75,72/100.000. Na análise da Razão Corrigida, houve variação de 39,27 para 118,09/100.000. Houve evidência de associação entre o estado civil e causas obstétricas indiretas com a faixa etária materna; que existe diferença entre as medianas as classificações de escolaridade das faixas de idade 10-19 anos e 30-34 anos com RMME; a indicação de diferenças entre a mediana do nível de escolaridade ≥ 8 anos comparados as demais classificações. Como também, entre as medianas do tipo causa obstétrica para as faixas de idade 20-24; 25-29 e 30 a 34 anos com a RMME. No período estudado, a RMME corrigida mostrou tendência crescente, na faixa 10-19 anos e 25-29 anos, com resultado significante e aumento anual estimada em 7,96% e 36,72%. A RMMC indicou tendência crescente, na faixa 10-19 anos com resultado significante e aumento anual estimada em 3,62%. Em contrapartida, a faixa de 30-34 anos revelou tendência decrescente -1%. O coeficiente de correlação entre RMME, segundo variáveis do pré-natal e o tipo do parto apontaram relação inversa, estatisticamente significante, entre o número de consultas pré-natal e a RMME de mães adolescentes, ou seja, nas consultas 1 a 3 (r= -0,50 e p-valor=0,024) e 4 a 6 (r= 0,49 e p-valor= 0,028). Essa mesma relação inversa e significativa foi verificada para a variável tipo de parto vaginal com faixa de idade 10-19 anos (r= -0,50 e p-valor= 0,025) e 25-29 anos (r= -0,63 e p-valor= 0,003). E segundo variáveis do pré-natal e o tipo do parto apontaram relação positiva, estatisticamente significante, entre o número de consultas pré-natal e a RMMC com faixa de 30-34 anos, ou seja, nenhuma consulta (r= -0,53 e p-valor=0,017) e 1 a 3 (r= 0,46 e p-valor= 0,043). Foi identificado correlação entre a cobertura pré-natal e a RMM, e também com a escolha do tipo de parto, em que quanto maior o número de partos vaginais menor foi a RMM. Conclusão: no estado do Rio Grande do Norte, a mortalidade materna permanece elevada, com tendência significante crescente para adolescentes e jovens, no período estudado. Os resultados apontam a necessidade de reflexões e estratégias implementadas pela gestão e equipes de saúde para melhoraria da atenção obstétrica no pré-natal, parto e puerpério, em nível nacional e local, e redução dos óbitos maternos.