METAFÍSICA E ESTÉTICA DA LUZ NO PENSAMENTO DE MARSILIO FICINO
Humanismo; Metafísica; Estética; Liberdade.
“Um amigo da luz”, assim o humanista Marsilio Ficino (1433-1499) define a si mesmo para explicar a sua reiterada e profunda investigação acerca de um tema que se torna relevante para a compreensão de toda a sua metafísica. Retomando teorias de diversas correntes filosóficas sobre o argumento da luz, o filósofo consegue diluir as possíveis divergências entre elas, na medida em que defende a existência de uma divina sapientia que as atravessa e as justifica através dos tempos. No universo ficiniano, a luz manifesta-se tanto no seu aspecto físico quanto inteligível, constituindo, assim, não apenas o que nos permite ver o mundo, como ainda o que nos permite compreendê-lo. A simbologia utilizada nos seus textos reflete a permanente unidade de uma luz que, ao se estender amorosamente pelo cosmo, exerce um papel vinculador de toda a realidade. Em tal dinâmica, questões teológicas, epistemológicas e estéticas entrecruzam-se e estão a serviço da vida, porque, afinal, para o mestre florentino, é considerado vão qualquer saber que o homem não o aproveita para si. No entanto, nesse processo, pelo menos dois aspectos são assegurados por Ficino: o primeiro diz respeito ao livre-arbítrio da alma humana, conferindo-lhe o lugar central na escala ontológica; o segundo, a legitimação da matéria corpórea como ponto de partida para o possível processo de divinização (deificatio). Considerando todo esse contexto, constitui objetivo da presente tese demonstrar, sob os prismas metafísico e estético, como a temática da luz serve de elemento unificador de toda a teoria ficiniana, além de apontar a construção de uma vida solar como possível chave para o alcance de uma existência mais autêntica, livre e feliz. Pretende-se ainda apresentar, como apêndices, as traduções dos opúsculos ficinianos De Sole e De Lumine, inéditas na língua portuguesa.