ECOLETRAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: o Movimento Escoteiro na Reserva Estadual Ponta do Tubarão
Movimento Escoteiro. Sustentabilidade. Letramento científico. Ecoletramento. Projeto de Ecoletramento.
A leitura e a escrita, historicamente, parecem ter a sua legitimação circunscrita apenas à instituição escolar, a ponto de muitas práticas de letramento realizadas fora dela serem invisibilizadas socialmente, sobretudo quando os seus agentes também os são. Porém, na sociedade grafocêntrica em que vivemos, cada vez mais se tornam evidentes as inúmeras formas de interação estabelecidas por meio da linguagem, principalmente em espaços outros que não o da escola. Considerando que somos sujeitos de conhecimento e que as nossas relações com o mundo se dão por ações intercambiadas pela leitura, escrita e oralidade, que interferem no nosso meio, no nosso ambiente, este trabalho visa estabelecer um diálogo profícuo entre os letramentos constituídos no Movimento Escoteiro, mais precisamente no Grupo de Escoteiros do Mar Alferes Cassiano Martins (GEMACM), e a comunidade na qual ele está inserido, que é Barreiras, distrito de Macau, no interior no Estado do Rio Grande do Norte. Partindo do contexto em que o Grupo está situado, que é o espaço da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), nosso objetivo geral de pesquisa se constitui em compreender de que forma os letramentos situados fora do contexto escolar podem interagir com o letramento escolar e contribuir para o desenvolvimento sustentável na RDESPT. Para tanto, buscamos, como objetivos específicos, identificar tipos de conhecimentos (re)construídos nas atividades escoteiras que potencializam uma formação crítica e integrada ao meio ambiente e refletir sobre interrelações que podem ser estabelecidas entre agências educativas formais e não formais, como a escola e o Movimento Escoteiro. De abordagem qualitativa, assumimos neste estudo a perspectiva da pesquisa socioambiental (ALMEIDA; HAYASHI, 2019), a partir da qual desenvolvemos um Projeto de Ecoletramento com os membros do GEMACM, partindo de uma problemática ambiental importante para eles e para os demais moradores, que é o despejo indevido do óleo de cozinha no solo da reserva. Teoricamente, fundamentamos a pesquisa nos estudos de Letramento (STREET, 2014, BARTON; HAMILTON; IVANIC, 1993; HAMILTON, 2000; MCLAREN, 1977; KLEIMAN, 1989, 1995, 2016; OLIVEIRA, 2010; OLIVEIRA; TINOCO; SANTOS, 2014; TINOCO; VALE-SILVA, 2020; DANTAS, 2012; KALANTZIS; COPE; PINHEIRO, 2020) e nos estudos ambientais que abordam questões relacionadas à educação ambiental, sustentabilidade, letramento científico e ecoletramento (BOFF, 2016; SEABRA 2009; CARVALHO, 2014; DEMO, 2019; CHASSOT, 2018; MASSARANI, TURNEY, MOREIRA, 2005; LEFF, 2009; 2015; CAPRA ET AL, 2005; 2006). A partir das discussões emergidas deste estudo, pudemos depreender diferentes eventos e práticas de ecoletramento realizados pelos escoteiros, como rodas de conversa, reuniões, formações internas, oficinas, dentre outros, desenvolvidos no Projeto de Ecoletramento Preservando a nossa RDSEPT: descarte consciente do óleo de cozinha. No Projeto, tais eventos e práticas mobilizaram um conjunto de conhecimentos ligados ao letramento científico, digital, escolar, cívico, familiar, crítico e ecológico. Com isso, destacamos a necessidade iminente de ações integradoras entre espaços formais e não formais de ensino-aprendizagem, a fim de que sejam estabelecidos diálogos profícuos voltados para uma formação crítica, emancipatória, em prol de uma educação ambiental sustentável, favorecendo, assim, práticas de ecoletramento dentro e fora do espaço escolar.