O SER PROFESSOR NOS COMPLEXOS BILÍNGUES DE REFERÊNCIA PARA SURDOS DE NATAL: VOZES EM DIÁLOGO
Linguística Aplicada. Diferença. Educação de Surdos. Complexos Bilíngues de Referência para Surdos de Natal.Professores de Língua Portuguesa para Surdos.
No ano de 2010 na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, realizou-se a implementação de um novo conceito institucional voltado para a educação de surdos, materializado nos Complexos Bilíngues de Referência para Surdos (CBRS), dez grupos de duas ou três escolas municipais, responsáveis pela Educação Infantil e Ensino Fundamental I e II, passíveis de terem até 50% de seu alunado constituído por alunos surdos. Dada a alcunha “bilíngue” do projeto, têm grande importância para sua realização não apenas os profissionais especializados na educação de surdos (como instrutores e intérpretes de Libras), mas os professores de Língua Portuguesa dessas instituições. Nesta pesquisa, o objeto são as vozes sobre o ser professor nos Complexos Bilíngues de Referência para Surdos de Natal. Situados na área da Linguística Aplicada, temos por objetivo criar inteligibilidade sobre um problema social que tem a linguagem ocupando papel central, qual seja o ser professor nas instituições em questão. O corpus da pesquisa se constitui de onze textos redigidos por esses profissionais sobre sua atuação nas referidas instituições. A análise que realizamos se constrói sobre os quatro tópicos mais recorrentemente encontrados nos relatos, quais sejam a formação inicial e continuada, as experiências docentes, os aspectos institucionais e as sensações que permeiam sua atuação. Sob uma perspectiva qualitativo-interpretativista, realizamos a leitura e a discussão dos dados tomando por base as concepções de linguagem e sujeito elaboradas pelo Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2011; VOLOSHÍNOV/BAKHTIN, 2012); a noção de diferença dos Estudos Culturais, com maior representação de Woodward (2012) e Silva (2012); e as discussões sobre educação de surdos dos Estudos Surdos, com maior presença de Skliar (1997, 2010), Sánchez (1990) e Lane (1992, 2006). Nas falas dos professores, é possível identificar a fluidez e multiplicidade de vozes que os atravessam. Em suas vozes se revelam as tensões existentes entre o discurso governamental da inclusão como perspectiva da Educação Especial e a realidade enfrentada pelos docentes. A despeito das diferenças que os constituem, seus discursos se tocam sobretudo no que diz respeito às insuficientes oportunidades de formação e às precárias condições de atuação, que têm repercussões diretas no processo de ensino-aprendizagem do aluno surdo.