A ESCRITA DO TEMPO E A POÉTICA DO ESPAÇO: História e Espaço no livro Geografia do Brasil Holandês de Luís da Câmara Cascudo
Luís da Câmara Cascudo, Espaço, Brasil Holandês, Poética da História, Geografia
Em 1956, Luís da Câmara Cascudo publicou seu livro Geografia do Brasil Holandês. Neste livro, ele estudou e descreveu um espaço – o “Brasil Holandês” – de uma perspectiva histórica e geográfica. Para fazer isso, ele articulou ambas as perspectivas do ponto de vista de sua própria leitura da História do Nordeste, estabelecendo um diálogo com a tradição historiográfica de estudo do “Brasil Holandês” em Pernambuco. Ao retratar a presença holandesa no “Nordeste”, Cascudo articulou um drama em que os holandeses teriam sua história descrita como um enredo tipicamente trágico, retratados como se eles já estivessem condenados ao fracasso de antemão. A essa tragédia ele opôs um enredo português predominantemente cômico, como se a vitória portuguesa sobre os holandeses tivesse sido tão desejável quanto inevitável para o espaço do “Nordeste”. Ao narrar o embate entre holandeses e portugueses pelo espaço do “Nordeste”, porém, Cascudo terminou por delinear seu próprio lugar de fala, enquanto porta-voz da identidade do espaço potiguar em oposição ao espaço pernambucano descrito por Freyre e Gonsalves de Mello. Desse modo, o espaço norte-rio-grandense teria uma identidade própria, construída a partir da ausência holandesa e constituído a partir do legado português, contrariamente ao espaço de Pernambuco, narrado a partir de uma articulação e conciliação do legado holandês e português, mesmo que destacando este último. Enquanto os holandeses teriam sido uma presença constante na história pernambucana, para Freyre e Gonsalves de Mello, eles não teriam passado de lenda no espaço do Rio Grande do Norte, retirados de sua geografia e apagados de sua história. Ao descrever a geografia do espaço potiguar, portanto, Cascudo articula a inexistência da História de um tempo dominado por flamengos com a busca de um espaço português, através da narração de suas origens e constituição, bem como pelo registro das características de seu legado.