Cartografias do além: o mundo dos vivos e o universo dos mortos no Antigo Egito
Livro dos Mortos; Papiro de Ani; Cartografia do Além; literatura funerária.
O Livro dos Mortos é um dos documentos mais conhecidos do Antigo Egito; tal popularidade se reflete também na quantidade de estudos e, por conseguinte, de produções relativas à essa fonte. Algumas dessas produções podem ser colocadas no campo do esotérico; outras, por sua vez, são notabilizadas pelo rigor metodológico e pela sensibilidade inerente àqueles que estudam um passado longínquo, buscando-o retirá-lo do campo do fascínio e conferi-lo cientificidade. A quantidade de estudos sobre o Livro dos Mortos age de duas maneiras principais: facilita o estudo, pela rica quantidade de material produzido, porém, dificulta o trabalho pelo mesmo motivo, já que se torna sistematicamente difícil desenvolver ideias inovadoras. Com este estudo, buscamos oferecer ao leitor uma abordagem sobre o Livro dos Mortos a partir da exposição, classificação e análise de dois motivos recorrentes presentes em praticamente todos os seus capítulos, a saber, o apelo ao movimento e a evocação da necessidade das oferendas para que a vida do morto, posta ao fim a partir do declínio do corpo físico, seja retomada em outro mundo, a Duat – local que os egípcios concebiam enormemente como um espelho do mundo dos vivos, motivo pelo qual se explica conceberem o Livro dos Mortos como uma cartografia do Além.