POR UMA “CIDADE NOVA”: APROPRIAÇÃO E USO DO SOLO URBANO NO TERCEIRO BAIRRO DE NATAL (1901-1929)
Cidade Nova; Natal; estado republicano; aforamento.
Este trabalho objetivou analisar as formas de apropriação e uso do solo urbano de Cidade Nova, terceiro bairro oficial de Natal (Rio Grande do Norte), entre 1901 e 1929. Nesse período, os poderes municipal e estadual iniciaram uma remodelação urbana, tentando transformar a cidade, representá-la como nova, modernizada, capaz de acompanhar o progresso e a nova condição política da capital de um estado republicano. Observa-se em Cidade Nova a construção de um novo território material e simbólico: a área, que outrora era ocupada por casebres construídos pelos retirantes da seca e algumas casas de veraneio, foi, a partir de 1901, transformada, esquadrinhada por meio de um plano urbanístico. Em Natal, várias resoluções municipais publicadas entre 1901-1929 demonstraram os anseios do grupo dirigente em construir em Cidade Nova um bairro aprazível, modernizado em suas estruturas, que refletisse a nova condição política da capital de um estado republicano. As análises dos editais, das matérias publicadas no jornal A Republica e Diário do Natal e, principalmente, o estudo das cartas de aforamento, demonstraram como muitas leis foram ressignificadas ou descumpridas, destacando as continuidades existentes. Assim, ao longo do trabalho pretende-se analisar como esse território foi ocupado e utilizado pelos seus habitantes, como a concessão de terrenos em aforamento pode exemplificar essa prática e descumprimento das leis e como esse território foi utilizado para consolidar relações de influência e poder. Afinal, os valores conferidos a um espaço, transformando-o em território, resultam da dimensão social desse espaço, ou seja, das categorias sociais que o utilizam. Não se pode, portanto, analisar as formas de apropriação e uso do solo urbano no terceiro bairro de Natal sem estudar os indivíduos que se apropriaram e usaram esse território. O estudo do processo de concessão de aforamentos de terras localizadas nesse bairro demonstrou a formação de um tipo de mercado específico, em que estavam em jogo não somente trocas econômicas, mas também e, sobretudo, trocas simbólicas, envolvendo capitais políticos e sociais. A análise desse mercado pessoal desenvolvido com as terras de Cidade Nova pode indicar as relações de poder existentes entre governo estadual, Intendência e foreiros, fornecendo um exemplo significativo desse processo de modernização da Natal do início do século XX, guiado por um grupo mais abastado e influente e caracterizado por mudanças sociais limitadas.