RELAÇÃO ENTRE A SOBRECARGA DE TRABALHO E O PADRÃO DE SONO-VIGÍLIA, QUALIDADE DO SONO E SONOLÊNCIA DIURNA DO CUIDADOR: ESTUDO DE MÉTODOS MISTOS
Serviços de Assistência Domiciliar. Fardo do cuidador. Distúrbios do Início e da Manutenção do Sono. Saúde Ocupacional.
Introdução: O ato de cuidar de um idoso reveste-se de alterações cotidianas, responsabilidades, tarefas e disponibilidade de tempo, além de acarretar implicações negativas à saúde do cuidador, podendo afetar a qualidade de vida e o padrão de sono-vigília. Objetivo: Avaliar a relação entre a sobrecarga de trabalho e o padrão sono-vigília, qualidade do sono e sonolência diurna do cuidador da pessoa idosa. Metodologia: estudo de métodos mistos, do tipo sequencial, cujo participaram 73 cuidadores de idosos de um município paraibano, aleatoriamente selecionados. Os dados foram coletados entre abril e agosto de 2023 por meio dos seguintes instrumentos: questionário sociodemográfico e ocupacional; Inventário de sobrecarga de Zarit; Índice da Qualidade do Sono de Pittsburgh; diário de sono, Escala de Sonolência de Maldonado e um roteiro semiestruturado para a entrevista em profundidade. Os dados quantitativos foram analisados a partir da estatística descritiva e bivariada, considerando significância quando p-valor < 0,05. Os dados qualitativos foram processados pelo software IRAMUTEQ com subsídio da classificação hierárquica descendente, e posteriormente analisados a luz do referencial metodológico de Bardin. Resultados: 47,9% da amostra total apresentou má qualidade de sono, que foi associada ao sexo feminino (p=0,018), zona de moradia urbana (p=0,0001) e ocupação do lar (p=0,0001). Ao considerar as estratificações do ZARIT, 67,1% dos cuidadores apresentam um grau moderado à severo de sobrecarga de trabalho, que foi associada a má qualidade do sono do cuidador (p=0,0001), indicando que quanto maior o grau de sobrecarga do cuidador pior a qualidade de sono (p = 0,727). Com relação ao padrão de sono/vigília foi observado horários de deitar e levantar mais tardios no fim de semana (p=0,0001) em relação a semana, sem diferenças no tempo na cama. As irregularidades médias (deltas) observadas nos horários de dormir, acordar e duração do sono foram de 37,28 ± 24,53min, 39,46 ± 18,0min e 51,88 ± 43,67min, respectivamente. Houve uma maior prevalência para o nível de sonolência diurna estratificado nos dias de semana, quando comparado a dias de final de semana (p=0,025). Ao realizar a comparação das variáveis segundo zona de moradia, obteve-se uma relação estatisticamente significativa com a zona rural para ocupação agricultor (p=0,0001) e o cuidador prioritariamente desenvolvidos pelos netos (p=0,038). A zona urbana obteve pior qualidade do sono (p=0,008), menor duração do sono em dias de semana (p=0,027) e final de semana (p=0,001) além de delta de acordar média mais elevada (p=0,018), indicando horários mais tardios de acordar. A matutinidade foi mais prevalente independente da zona de moradia. Os dados qualitativos corroboram os achados do conjunto quantitativo, sendo estes apresentados em uma categoria temática, cujo desvelam a percepção do cuidador sobre a insatisfatóriedade do sono e os hábitos que caracterizam a atividade cuidado como comprometedora do ciclo sono/vigília e das demais dimensões biopsicossociais do indivíduo. Conclusões: A convergência dos dados indica a existência da relação entre o cuidado e piores condições de sono do cuidador, despertando a necessidades de intervenções no cenário desses profissionais.