“MANTER O PACIENTE SEMPRE ESTABILIZADO”: REFLEXÕES SOBRE O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Reforma Psiquiátrica. Produção de cuidado. Território. Saúde mental.
Em vista das consequências do tratamento oferecido nos manicômios, que rotulava os loucos e os submetia às violências da instituição, ao sofrimento e à alienação, a Reforma Psiquiátrica e o processo de desinstitucionalização se desenvolvem levando em consideração a transformação dessa forma de tratamento, compreendendo o cuidado no território em diálogo com as redes. No entanto, a produção do cuidado em saúde mental é atravessada pelos desafios em concretizar políticas e iniciativas voltadas à reinserção social dos usuários, envolvendo seus projetos de vida, as ações ainda são fragmentadas ou não se concretizam. Sendo assim, este estudo tem o objetivo de analisar como acontece o processo de produção do cuidado em saúde mental e a sua relação com o território em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) II localizado no interior do Rio Grande do Norte (RN), a partir das perspectivas dos trabalhadores do serviço. Trata-se de uma pesquisa-intervenção de cunho qualitativo que utiliza a Análise Institucional. Foi desenvolvido por meio das seguintes etapas: a realização de roda de conversa com os profissionais; observação-participante em dias de atividades coletivas; e o uso do diário de pesquisa para facilitar o registro e as reflexões decorrentes do contato com o campo. Foram cumpridos os aspectos éticos em consonância com a Resolução nº 510/2016 - Conselho Nacional de Saúde, após o projeto ter sido devidamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (FACISA/UFRN), sob parecer CAAE: 62774222.2.0000.5568. Os dados construídos a partir da presença da pesquisadora no campo, na situação de investigação, foram organizados em 4 (quatro) eixos temáticos: A encomenda, as demandas e o processo de pesquisa; “A função é de suma importância”: funcionamento do CAPS II; “É uma realidade de todo interior ter um personagem que é taxado como doido”: experiências e perspectivas sobre a loucura; “Manter o paciente sempre estabilizado”: processos de cuidado e relação do CAPS com o território. Conclui-se que o referido CAPS II apresenta sua produção de cuidado atravessada pela lógica manicomial e asilar de fechamento do serviço em si mesmo e apoia-se na patologização dos usuários. Assim, falta abertura para a produção do cuidado no território, bem como há falhas na articulação com as redes dos usuários e, portanto, no processo de reinserção social, de modo que o cuidado se limita aos muros do serviço.