Análise Institucional das Práticas Profissionais de Atenção a mulheres em situação de violência no CAPS de uma cidade do interior
Gênero e saúde; Violência contra a Mulher; Saúde Mental; Análise Institucional; Educação Permanente em Saúde.
O debate de gênero tem adentrado cada vez mais o campo teórico e prático da Reforma Psiquiátrica, sendo a desconstrução das desigualdades de gênero, raça e classe entendida como um processo fundamental para a práxis do cuidado pautada no modelo biopsicossocial. Considerando as violências contra as mulheres como uma dimensão instituída na sociedade que atravessa também as práticas de cuidado em saúde mental, o presente trabalho teve por objetivo geral analisar as práticas profissionais junto aos trabalhadores do CAPS II da cidade de Santa Cruz/RN, tendo como foco as implicações profissionais acerca do cuidado as mulheres com histórico de violências. Para tanto, optamos pela pesquisa-intervenção, de abordagem qualitativa, a partir do referencial teórico metodológico da Socioclínica Instituicional, na modalidade da Análise Institucional das Práticas Profissionais. Essa dissertação é parte de um projeto maior que envolve ensino, pesquisa e extensão e busca investigar várias dimensões do cuidado às mulheres em sofrimento psíquico grave e em situação de violência no município de Santa Cruz/RN. Sendo assim, a pesquisa teve início em paralelo com os demais eixos do projeto, a partir de uma análise do campo realizada em conjunto com a equipe de pesquisadoras. Os dados foram produzidos com os profissionais do CAPS a partir de três instrumentos: rodas de conversa, entrevistas individuais e diários de pesquisa. Foram realizadas quatro rodas de conversa, sendo três presenciais e uma remota (online), 07 entrevistas individuais e os diários foram escritos pela autora desse trabalho com base nos momentos vivenciados no serviço e nas reuniões de planejamento/orientação. Os resultados foram organizados a partir das implicações profissionais em suas dimensões psicoafetiva, histórico-existencial e estrutural-profissional com algumas instituições como o gênero (e as violências contra as mulheres). Além dessas, as implicações com outras instituições mostraram-se relevantes ao longo do processo de intervenção e análise, como a acadêmico-científica, a(s) profissão(ões) e a saúde mental. O trabalho de análise tem sido importante para retirar as violências da dimensão do não dito no serviço, mas também para refletir sobre outras interferências institucionais – os modos instituídos de cuidado, as concepções de saúde mental e a gestão do processo de trabalho. O tensionamento entre discursos e práticas tem apontado para a criação de forças instituintes, resultantes do próprio movimento da pesquisa-intervenção. A possibilidade de educação no/pelo trabalho demonstra o potencial dos dispositivos analíticos criados para desenvolver a Educação Permanente em Saúde, o que condiz com o princípio socioclínico de produção de conhecimento durante a intervenção.