INFLUÊNCIA DO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR NO ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO DE NUTRIENTES DE TRABALHADORES DE INDÚSTRIAS DE TRANSFORMAÇÃO.
Política Pública. Estado Nutricional. Consumo de Alimentos. Saúde do Trabalhador. Insegurança alimentar
Introdução: Vários estudos publicados relataram associação entre participação em um programa de assistência alimentar com maior prevalência de sobrepeso e obesidade.
Objetivo: Comparar o estado nutricional e o consumo de nutrientes entre trabalhadores de empresas participantes e não participantes do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) do Brasil.
Métodos: Estudo epidemiológico observacional, prospectivo, transversal, comparativo, baseado em amostra probabilística, representativa da população de trabalhadores da indústria transformadora do Estado do Rio Grande do Norte. Obtiveram-se amostras aleatórias de trabalhadores de indústrias participantes e não participantes no PAT por amostragem estratificada e multi-estágios para determinação do índice de massa corporal (IMC) e circunferência da cintura (CC). O consumo de nutrientes foi avaliado por recordatório de 24 horas. A análise estatística foi realizada separadamente em cada sexo, utilizado um modelo de regressão linear de efeitos mistos multi-nível incluindo ponderações de amostragem para empresas e para trabalhadores condicionais à seleção da empresa, com porte como fator fixo e, como fatores aleatórios, o setor de atividade, empresa aninhada em setor e trabalhador aninhado em empresa.
Resultados: Foram avaliados 929 trabalhadores de 33 indústrias, (484 de empresas não PAT e 445 de empresas PAT). Nos homens, o grupo PAT apresentou maior IMC (+1,08 kg/m², IC95% +0,73 a +1,44, p<0,001), maior CC (+3,27 cm, IC95% +1,83 a +4,70, p<0,001) e maior prevalência de obesidade (OR 1,67, IC95% 1,31 a 2,14, p<0,001); no consumo alimentar, apresentaram maior consumo no almoço de carboidratos (+39,5 kcal, IC95% +6,10 a +72,9, p=0,02), proteínas (+11,1 kcal, IC95% -1,46 a +23,6, p=0,08) e fibras (+1,4g, IC95% +1,0 a +1,8, p<0,001), e menor consumo nas demais refeições de carboidrato (-30,5 kcal, IC95% -40,4 a -20,7, p<0,001) e fibras (diferença -1,2 g, IC95% -1,8 a -0,6, p<0,001). No sexo feminino, não se observaram diferenças estatísticas nos parâmetros antropométricos, mas o grupo PAT apresentou menor prevalência de obesidade (OR 0,49, IC95% 0,24 a 1,00, p=0,05), menor consumo calórico diário (-92,5 kcal, IC95% -154,3 a -30,8, p= 0,003), menor consumo de carboidratos nas demais refeições (-17,5 kcal, IC 95% -30,1 a -4,9, p=0,007) e no total diário (-59,3 Kcal, IC95% -117,9 a -0,8 p=0,05), menor consumo de proteína no almoço (-14,2 Kcal,IC95% -27,6 a -0,7 p=0,04) e lipídios totais diários (-18,6 Kcal, IC95% -36,0; -1,3 p = 0,04). As mulheres do grupo PAT também apresentaram menor ingestão de sódio no almoço (-169 mg, IC95% -244 a -94, p<0,001), nas demais refeições (-329 mg, IC95% -648 a -10, p=0,04) e no total diário (-500 mg, IC95% -794 a -206, p =0,001).
Conclusão: Observou-se associação entre a participação no PAT e aumento do IMC e CC no sexo masculino, porém essa associação não foi identificada no sexo feminino. Em relação aos consumos de nutrientes, no sexo masculino existe consumo mais elevado de carboidratos e proteína ao almoço, enquanto as mulheres do grupo PAT apresentaram um consumo alimentar qualitativamente melhor quando comparadas ao grupo não PAT. Uma explicação para a diferença de resultados nos dois sexos poderá ser que os efeitos benéficos dos programas de assistência nutricional sobre o estado nutricional podem estar mais relacionados à redução da insegurança alimentar em pessoas de baixa renda do que ao fornecimento de alimentos para combater os déficits nutricionais.