Epidemiologia e fatores prognósticos de candidemia nosocomial no nordeste brasileiro: um estudo retrospectivo de 6 anos
Candida spp., candidemia, epidemiologia, fatores prognósticos, resistência antifúngica
Candidemia tem sido considerada um persistente problema de saúde pública com grande impacto nos custos hospitalares e alta mortalidade. Objetivamos avaliar a epidemiologia e fatores prognósticos de candidemia em um hospital terciário no nordeste brasileiro entre janeiro de 2011 e dezembro de 2016. Dados clínicos e demográficos dos pacientes foram retrospectivamente obtidos dos prontuários e o perfil de susceptibilidade aos antifúngicos das cepas de Candida spp. foi realizado através do método de microdiluição em caldo de acordo com o CLSI (documento M27-A3). Um total de 68 episódios de candidemia foram avaliados. Observou-se uma incidência média de 2,23 episódios de candidemia/1000 admissões e uma taxa de mortalidade após 30 dias de 52,9%. No momento da candidemia, a maioria dos pacientes (37,5%) encontrava-se na unidade de terapia intensiva. As espécies mais prevalentes foram Candida albicans (35,3%), Candida tropicalis (27,5%), Candida parapsilosis (21,6%) e Candida glabrata (11,8%). Os principais fatores predisponentes foram o uso prévio de agentes antibacterianos (97,1%), cateter venoso central (79,4%) e corticoterapia (55,9%), além de cirurgia prévia (55,9%). As comorbidades mais prevalentes foram doença cardiovascular (72,1%), hipertensão arterial sistêmica (68,4%), diabetes mellitus (59,5%) e insuficiência renal (51,5%). Algumas variáveis aumentaram significativamente a probabilidade de morte (idade, sepse grave, choque séptico, hipotensão, ventilação mecânica e maior número de cirurgias), enquanto outras atuaram como fatores de proteção (maior tempo de internação, contagem normal de neutrófilos e de plaquetas, além de bacteremia após o episódio de candidemia). Na análise multivariada, as variáveis idade, sepse grave e hipotensão foram independentemente associadas a maior probabilidade de morte. Não houve resistência à anfotericina B, micafungina ou itraconazol. Apesar da baixa taxa de resistência ao fluconazol (5,1%), uma proporção maior de cepas foi sensível dose-dependente a este antifúngico (20,5%), principalmente entre os isolados de C. glabrata (80%). Em conclusão, nossos resultados podem auxiliar na adoção de estratégias para estratificar pacientes com maior risco de desenvolver candidemia e com pior prognóstico, além de melhorar o manejo antifúngico.