En attendant Ulysses: o mito de Penélope à da Comparação diferencial e discursiva
Análise diferencial-discursiva; Penélope; João do Rio; Dalton Trevisan.
Idealização masculina da mulher, o mito de Penélope por muito tempo se resumiu ao lugar coadjuvante de esposa fiel e dedicada. Muitos escritores recorreram a ela e a sua espera incansável não só ao tentar recontar a Odisséia, mas também ao criar novos textos, de gêneros e contextos sócio-históricos distintos. De acordo com Ute Heidmann (HEIDMANN, 2003) a recorrência de escritores modernos a mitos gregos ao produzirem seus textos é uma prática discursiva “renovadora”, que dá ao mito “novas escritas e pertinência”. Nesse aspecto, podemos dizer que não se trata de uma única Penélope que espera um único Ulisses, não se trata de uma guerra de Tróia. São diversas as Penélopes porque são diversos os contextos, os conflitos. São diversos os leitores. Nosso trabalho se propõe a analisar o processo de reconfiguração do mito de Penélope em duas narrativas homônimas ambientadas no Brasil: a Penélope - presente na coletânea de contos A mulher e os espelhos (1919?) do autor carioca João do Rio, bem como a personagem homônima presente no livro de estréia do autor curitibano Dalton Trevisan, Novelas nada exemplares (1959). Para tal, lançamos mão da Análise diferencial e discursiva proposta por Ute Heidmann (2003, 2009, 2010, 2011) e dos conceitos de cenografia e ethos de Dominique Maingueneau (2006), pois acreditamos que os tipos de cenografia utilizados, bem como a construção de um ethos adequado reflete na obra um modo de dizer intrinsecamente ligado a um modo de ser, legitimando dessa forma, o exercício da fala literária.