VOCÊ EM CARTAS PESSOAIS NORTE-RIOGRANDENSES DO SÉCULO XX
Português Brasileiro; Pronomes Pessoais, Século XX; Você
Neste trabalho, objetivamos descrever e analisar o processo de variação/mudança envolvendo os pronomes pessoais tu e você, e sua extensão no paradigma pronominal no Português Brasileiro (PB), em três conjuntos de cartas pessoais escritas por norte-riograndenses no curso do século XX. O universo discursivo dessas cartas é basicamente notícias da cidade em que viviam os informantes – uma vez que moravam em cidades distintas –, assuntos do cotidiano (comércio, trabalho, viagens, família e política). Parte das cartas analisadas integram o banco de dados do córpus mínimo manuscrito do Projeto de História do Português Brasileiro no Rio Grande do Norte (PHPB-RN). Neste trabalho, tomamos por base alguns estudos anteriores sobre o sistema pronominal no Português Brasileiro (PB), a saber: Menon (1995), Faraco (1996), Lopes e Machado (2005), Rumeu (2008), Lopes (2009), Lopes, Rumeu e Marcotulio (2011), Lopes e Marcotulio (2011) e Martins e Moura (2012), os quais registram que no PB a forma você suplanta o uso de tu a partir do século XX. Os referidos trabalhos atestam o seguinte quadro: enquanto (a) as formas verbais imperativas, (b) os sujeitos plenos e (c) os pronomes complementos preposicionados são contextos favorecedores ao uso do você, as (d) formas verbais não imperativas (com sujeito nulo), (e) os pronomes complementos não preposicionados (te) e (f) os pronomes possessivos (teu/tua) são contextos de resistência do tu. Observando a produtividade do você nesses diferentes contextos sintáticos nas cartas percebemos que, de um modo geral, no processo de implementação do inovador você, as cartas pessoais norte-riograndenses apresentam o mesmo quadro delineado acima. No tocante à metodologia, os dados extraídos das cartas foram coletados categorizados de acordo com a sociolinguística variacionista (cf. WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006; LABOV, [1972] 2008) e submetidos aos programas do pacote estatístico GOLDVARB2001 (cf. ROBINSON; LAWRENCE; TAGLIAMONTE, 2001), a fim de rastrear por meio de frequências de uso a produtividade do você na escrita norte-riograndense do século XX.