FERNANDO PESSOA – O POETA ENTRE O MISTICISMO E A NEURASTENIA
Fernando Pessoa. Cartas pessoais. Escritos automáticos. Mediunidade e Histeria.
A que responde a criação de um mundo fictício? Repulsa ou forma de reação a um mundo exterior? Doença psíquica, cuja marca simbólica pode ser a simulação ou a despersonalização? Difícil assumir uma posição quando é a escritura de um poeta como Fernando Pessoa que está em jogo. Anota Léo Schlafman (1998) que na idade de 20 anos, Fernando Pessoa escrevera em inglês, no seu diário, “Uma de minhas complicações mentais é o medo da loucura, que em si próprio já é loucura." O que o livrou da loucura, constata Robert Bréchon (1986), era o gosto do jogo e jogo era para ele a sua escrita. Mesmo que isto o tenha livrado da loucura, o poeta não deixou de buscar explicações – ou de fornecê-las – para os fenômenos que tanto o incomodavam, ou o definiam. É aí que vamos nos deparar com o alinhamento de Fernando Pessoa no seio de correntes filosóficas, como o ocultismo, e na leitura sobre tratados psicológicos e distúrbios mentais, especificamente, sobre neurastenia e histeria. Eram caminhos buscados por ele para explicar a existência de seus heterônimos. Acompanharemos, então, Fernando Pessoa nessas leituras mostrando como a força do ocultismo é presente para fazê-lo crer que essa corrente filosófica explicaria certos fenômemos (espirituais) em sua vida, e de como a virada científica (medicina/psicologia) fora também vista por ele para explicar a “simulação” que o cercava .Nesse sentido, este trabalho apresenta os seguintes objetivos: 1. Analisar a presença do ocultismo e do misticismo, especialmente, a mediunidade, em cartas e documentos pessoanos, através dos quais o poeta explicava além da heteronímia, certos fenômenos que lhe eram recorrentes. 2. Observar como a temática da histeria foi acentuada por Fernando Pessoa na tentativa de reconhecer sua “tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação”. É certo que essa dissertação tocará em muitas discussões já postas por estudiosos e especialistas de Fernando Pessoa, mas consideramos a possibilidade de aprofundar questões e contribuir para a fortuna crítica do poeta. Assumimos o que anuncia o estudioso português Jerônimo Pizarro, um dos maiores estudiosos da obra pessoana: quem se interessa por Fernando Pessoa se perderá no labirinto criado por ele. Fica a imagem de um Pessoa-Minotauro, senão devorando a todos, prendendo-nos em sua tessitura labiríntica, porquanto marcada pelo mistério. Recorreremos, em nossa análise, a uma fundamental teórica alinhada aos próprios objetos da pesquisa: a Psicologia ( Sigmund Freud), estudos sobre os mitos (Carl Jung) e sobre as correntes religiosas como o Ocultismo, o Esoterismo e a Teosofia.