VESTÍGIOS DE AUTORREPRESENTAÇÕES AUTORAIS DE FRANCESCO PETRARCA: ESTUDO TRADUTOLÓGICO DA EPÍSTOLA MÉTRICA “AD SE IPSUM”
Francesco Petrarca; autorrepresentação autoral; despertencimento; literatura renascentista; pandemia.
Este é um trabalho de natureza dúplice. O primeiro objetivo dele é lançar um olhar sobre os rastros de autorrepresentações literárias de Francesco Petrarca em algumas de suas obras, em especial na epístola Ad se ipsum, aliada a outras de suas cartas, tanto em prosa quanto em verso. Para tanto, além da leitura do material escrito pelo próprio poeta, apoiamo-nos nas contribuições de seus biógrafos. Esse conjunto de aportes e fontes leva-nos a contemplar de perto a fixação do poeta no tema do exílio, algo que carrega consigo desde antes de nascer. O segundo objetivo é oferecer uma tradução inédita da epístola supracitada à língua portuguesa, em hexâmetros vernáculos, emulando o ritmo do original latino. Essa tradução vem munida de comentários a respeito do processo tradutório, de discrepâncias entre as edições cotejadas para a obtenção do texto original estabelecido e, por fim, das intertextualidades entre Petrarca e as fontes de que provavelmente bebeu para a composição da obra. Disposta em cinco seções, esta dissertação está firmada nos estudos de Jean Delumeau (1994; 1983) e Ronald Gene Witt (2001) para entendermos o lugar de Petrarca nos primórdios da Renascença, além dos aportes biográficos de Ernest Hatch Wilkins (1961) e Ugo Dotti (2006) para compreendermos o poeta em relação ao mundo que o rodeava. As considerações de Philippe Lejeune (2008), Eva C. Karpinski (2001) e Anna de Pretis (2014), entre outros, serão essenciais para a compreensão da epístola (interrelacionada com a poesia) como forma válida de expressão autobiográfica. As reflexões de Julia Kristeva (1994), aliadas às contribuições dos biógrafos, auxiliar-nos-ão a alargar a concepção de estrangeiro, possibilitando-nos a reflexão acerca das modalidades de autorrepresentação do poeta como um despertencido. A teoria e a prática tradutórias de Rudolf Pannwitz (1917 apud Benjamin, 2008) e de Carlos Alberto Nunes (1961), respectivamente, serão necessárias para a proposta de tradução que ora apresentamos. Através das teorias, entrelaçadas por nossas reflexões acerca da biografia petrarquiana, percebemos que a figura do poeta tem latente em si um despertencimento de sabor agridoce que vai buscar expressão nas letras. Assim, munidos da tradução e dos comentários, mergulharemos mais profundamente nos meandros da alma petrarquiana.