Feracidade insubmissa: o erotismo e suas derivas em Avalovara
Avalovara; Erotismo; Osman Lins; Literatura brasileira.
No cerne do erotismo e suas derivas – a saber, a morte, a escrita literária e o
sagrado –, integrado ao espaço autônomo da literatura, encontra-se o objeto desta
pesquisa: o romance Avalovara (1973), de Osman Lins. Partindo do princípio de que o
erotismo se revela enquanto força fundante e cosmogônica na obra, e que o sagrado, a
morte e a escrita literária se vinculam a ele, consideraremos que a força de Eros põe à
prova o sistema fechado do servilismo. Esses aspectos relacionados ao erotismo são
nomeados por nós de “derivas”, porque a deriva representa a evolução de um objeto
inicial, e é capaz de designar justamente o entrelaçamento entre o erotismo e os aspectos
por nós elencados. Investigaremos, então, o modo como o erotismo e suas derivas se
configuram e se entrelaçam, enquanto esbanjamento das paixões, levando em
consideração que o erotismo funda novas possibilidades orgânicas no texto e que o
desejo e a volúpia da linguagem indicam proeminências e aspectos ficcionais
insuspeitos e até fantásticos. Para tanto, partimos do ponto de que “a mística e o
erotismo são experiências mudas, que só encontram um correlato expressivo na
literatura.” (PELLEJERO, 2011, p. 224). A dimensão política do erótico será
considerada nesta tese, pois Eros implica também a transgressão de interditos
apregoados pela censura que compõe o contexto no qual a obra está inserida. Como
aporte teórico, utilizaremos primordialmente a obra ensaística de Osman Lins (que lança
luzes sobre a sua ficção), O erotismo (1957), de Georges Bataille, bem como o seu A
literatura e o mal (1957), além de outros autores pertinentes para o nosso debate
teórico, como Maurice Blanchot (2011), Jean-Paul Sartre (2004), Severo Sarduy (1979),
Roland Barthes (2004) e Octavio Paz (1995). Com a nossa análise, além da investigação
acerca da contribuição do erotismo para novas possibilidades narrativas, pretendemos
elucidar e considerar aspectos relevantes da prosa do autor pernambucano, mas também
tendências e processos caros à literatura contemporânea. Há aspectos vivificantes para a
compreensão da obra de Lins e também da literatura como espaço autônomo, como
queria Georges Bataille, a serem investigados nesta tese. Interessa-nos, portanto, pensar
o erotismo e suas derivas em sua insubmissão ao peso das instruções do mundo externo,
pois o desejo de não pactuar com a ordem estabelecida se evidencia ao longo da obra.