“SOU MELHOR QUE A MINHA FAMA”: A PRESENÇA DE SCHILLER NOS JORNAIS DO BRASIL OITOCENTISTA
Imprensa Histórica Brasileira; Friedrich von Schiller; Transferências Culturais; Memória Cultural Estrangeira
O presente trabalho objetiva analisar a presença de Friedrich Schiller na Imprensa Oitocentista brasileira, contribuindo para novos olhares nas áreas de Literatura Comparada, História da Imprensa e Estudos Germanísticos no Brasil. Os jornais, essencialmente no período oitocentista, assumiram um papel significante: além de informar, exerceram a função de formar novos leitores. O contexto social e histórico da época proporcionou um aumento significativo da circulação transatlântica de ideias e bens culturais, fazendo com que autores estrangeiros como Schiller, Goethe, Schlegel e muitos outros chegassem até os leitores brasileiros. Utilizando o acervo de dados da Hemeroteca Digital Brasileira (BNDigital) - Fundação Biblioteca Nacional são investigadas as conjunturas e argumentos que envolvem a circulação, tradução e a construção imagética do autor alemão, representante do movimento Tempestade e Ímpeto e do Classicismo de Weimar. Destacamos os seguintes jornais: o Diário do Rio de Janeiro, o Jornal de Recife e o Publicador Maranhense, no período que compreende 1822 a 1890, para exemplificar as ocorrências de Schiller nos periódicos brasileiros de língua portuguesa na fase inicial da sua formação sócio-cultural e identitária. Schiller é introduzido primeiramente no país a partir de apresentações teatrais, e posteriormente o seu nome figura entre as páginas dos jornais brasileiros. Entre os seus tradutores estão o poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias, o professor gaúcho Bernardo Taveira Júnior e o escritor sergipano Tobias Barreto. As publicações jornalísticas sobre Schiller demonstram uma heterogeneidade de estratégias de informação e divulgação do referido autor. Considerado referência na Alemanha, Schiller é incluído via dinâmicas de tradução e circulação de periódicos como parte de um cânone universal de homens de letras que serviram como referência ou modelo no contexto de discursos nacionais. Entendemos a presença schilleriana como mosaico relevante na formação da memória cultural estrangeira da literatura brasileira. Tratamos o nosso corpus, as ocorrências jornalísticas que envolvem Schiller e as suas obras, por análises quantitativas e qualitativas. Para a análise quantitativa nos apoiaremos no trabalho de Lima (2010). Baseamos a análise qualitativa no conceito teórico-metodológico de Transferências culturais de Michel Espagne (2017), somadas as pesquisas apresentadas na coletânea Trânsitos, trocas e transferências culturais de Xavier; Augusti e Mollier (2019). Além do conceito de Antropofagia como procedimento cultural relativo ao estrangeiro, através dos estudos de Berman (1984), Schwarz(1987), Schwarz (2006) e Bernd (2008). Para a abordagem socioeconômica recorremos a Pascale Casanova (2002) e Pierre Bourdieu (2002). Utilizamos como referencial os periódicos brasileiros, presentes na BNDigital enfocando a presença de Schiller a partir da perspectiva transatlântica da história dos impressos, aplicada nas coletâneas de Granja e Luca (2018), Poncioni; Levin (2018), Abreu (2016), Guimarães (2012) e Barbosa (2007). Destacamos com esse trabalho o potencial ainda pouco explorado dos jornais históricos brasileiros e as suas contribuições para além da História da Imprensa periódica.