O PIO DA CORUJA, “FITO NA VIDA” E DESTINO: NO RASTRO DO TRÁGICO EM S. BERNARDO
S. Bernardo; Trágico; Moderno; tragédia
A tragédia nasceu no berço da literatura ocidental e muitos filósofos e críticos da área da literatura se dedicaram ao estudo da tragédia grega com o objetivo de tentar entender como se processava o trágico na Grécia antiga. Esse gênero estava ligado ao culto religioso e ficou consagrado pela sua dimensão estética. Contudo, com o advento da modernidade, cada época revitalizou a tradição, e consequentemente, o conceito. Nesse percurso, a tragédia mudou de configuração ultrapassando a categoria da tragédia da antiguidade, passando a ser manifestar tanto na linguagem artística, filosófica e histórica. Na visão de Raymod Wiliams (2000), “chegamos à tragédia por muitos caminhos”. Assim, a concepção do trágico vinculado ao gênero dramático passou por várias transformações históricas ao longo dos séculos e cada época passou a discutir diferentemente a condição humana, de tal modo que o herói, dependente das forças divinas, foi substituído por uma pessoa comum com livre arbítrio, mas dependente das forças sociais. Sabendo que muito desses aspectos ainda ficaram por ser pensados, escritos e discutidos, propusemo-nos a desenvolver um estudo do romance S. Bernardo, de Graciliano Ramos, com o objetivo de verificar como são trabalhados os elementos do trágico nessa obra de 1934, mostrando que, mesmo depois do desaparecimento das tragédias clássicas da antiguidade, podem-se recuperar alguns traços do trágico antigo em um romance. Acreditamos que a melhor maneira de compreender o trágico em S. Bernardo seja a partir das categorias da tragédia da antiguidade e da modernidade. Nesse encaminhamento, na busca da peculiaridade do sentido trágico, a nossa atenção volta-se para a configuração trágica a partir de dois universos diferentes - o rural e o urbano, simbolizados na figura de Paulo Honório e Madalena. A dimensão trágica em S. Bernardo é revelada por vários elementos próprios do fabular da mitologia como: a coruja, que, entre o terror e a piedade, funciona como oráculo antecipando a fatalidade, o pathos, a hybris, a noção de destino, a peripécia.