O RESÍDRASTROS E RESÍDUOS DA TRADIÇÃO REGIONALISTA NA TRAMA COSMOPOLITA DE GALILEIA UO REGIONALISTA NA GALILEIA COSMOPOLITA
Rastro, resíduo, tradição, (neo)regionalismo, universalismo, Brito, Galileia
Este trabalho parte do pressuposto de que o romance Galileia, de Ronaldo Correia Brito, prolonga o passado no presente à base do resíduo cultural (Williams) e do rastro (Benjamin) acoplado ao de memória. Lembrar o passado se caracteriza por aquilo que resta, que remanesce de um tempo em outro, podendo significar a presença de uma sociedade que vive o passado à luz de vestígios culturais. Interessa-nos, pois, analisar o duplo movimento que constitui tal romance: um voltado para a busca de uma vida moderna com a ideia de que a modernidade está impregnada de acasos e acúmulo de experiências renovadas; outro vinculado a modos de vida baseados na experiência tradicional, representada na imagem de uma família patriarcal decadente, em que a experiência vem sob a forma de rastro no texto literário. No tocante à fundamentação teórica, tomaremos a noção de resíduo cultural empreendida por Raymond Williams (1979), e de rastro, defendida por Walter Benjamin (1994) para subsidiar nossa análise, a fim de pensarmos sobre o modo como componentes da tradição regionalista são incorporados ao romance, ao mesmo tempo que atualizados. Tais categorias analíticas, salvaguardando as singularidades que lhes são próprias, trazem como base comum do pensamento crítico a relação da vida presente com o passado histórico. Durante a análise foi possível perceber que o romancista investiu, literariamente, numa imagem de sertão atual, livre de estereótipos, uma vez que reaparecem em Galileia (2008) cenas entrelaçadas a discursos outros que possibilitam a ressignificação da região, compreendida não mais como espaço meramente inscrito na natureza, mas a partir de seu caráter histórico e político e delineado pelas representações culturais.