A presença da melancolia em Clarice Lispector
Clarice Lispector. Freud. Melancolia. Modernidade.
O vocábulo “melancolia” é tido pelos pesquisadores da área como de conceito escorregadio, pois pode designar desde uma inspiração filosófica, no dizer do filósofo grego Aristóteles, passando por uma prostração mórbida, como bem assinala Freud (1980), por um estar à deriva contemporâneo, no entendimento de Denilson Lopes (1999), para, finalmente, Lambotte (2000) afirmar que tal termo adquire um lugar independente, pois nem se localiza no conjunto das neuroses, nem no das psicoses. Um sopro de vida – Pulsações (1999) e A hora da estrela (1998) são obras complexas, uma vez que tratam de assuntos existenciais, sendo que seus enredos são marcados por uma força e uma beleza inimagináveis. Aquela possui apenas dois personagens: Autor e Ângela Pralini; esta traz a nordestina Macabéa como protagonista. O objetivo principal do atual texto é tentar compreender a melancolia do ponto de vista teórico, além de entendê-la nas referidas obras literárias. No primeiro capítulo, priorizou-se abrir a tese com uma introdução acerca do tema discutido. Já, no segundo, foi feito um levantamento da fortuna crítica das obras de Clarice Lispector. No terceiro capítulo, as duas narrativas foram estudadas pelo viés do corpo enquanto registro melancólico. Para tanto, este capítulo teve o amparo teórico dos livros O que é corpo (1994), de José Gaiarsa, O discurso melancólico (1997), de Marie-Claude Lambotte e Luto e Melancolia (1980), de Sigmund Freud. Depois, sendo um quarto capítulo, tais obras literárias foram investigadas pelo foco da linguagem melancólica. Por meio do falar ininterrupto de Ângela, percebe-se um movimento no qual seu discurso revela o seu interior decadente frente ao mundo erigido pelos homens. Já Macabéa é uma “estrela” que se revela mais pelo silêncio. Nessa pausa, a melancolia se faz presente por meio da inocência de uma moça pobre e solitária, desvelando as duas obras temas tão caros à psicanálise: a inibição generalizada, a problemática especular e o negativismo. Finalmente, num quinto capítulo, buscou-se tecer uma relação entre beleza e melancolia. História da Feiura (2014) e História da Beleza (2014), do autor italiano Umberto Eco, contribuem para, via história e criticidade, trazer a origem do conceito de beleza a fim de ir, aos poucos, ao conceito de feiura, bem como o fato de ter adquirido relevância na sociedade. Outrossim, foi escolhido o conto A bela e a fera ou a ferida grande demais, de Clarice Lispector, como forma de compreender essa beleza emanada do olhar do melancólico. No último capítulo, realizou-se a conclusão de todo o trabalho desenvolvido até o momento presente. Quanto à metodologia, houve o uso da busca bibliográfica literária e teórica para alcançar o fim por ora proposto. O texto teórico base para essa empreitada é o de Lambotte (1997). Denilson Lopes (1999) e Kristeva (1987) – além de outros textos, agregaram teoricamente o entendimento dessa inter-relação. Por fim, com o resultado, espera-se ampliar o aprofundamento da melancolia, contribuindo para uma sociedade mais informada, principalmente a respeito da diferença entre melancolia e depressão, além de que o estudo daquela nas obras de Clarice Lispector será alargado.