A NARRATIVA SEM PONTEIROS: O TEMPO EM A OSTRA E O VENTO E BELONA, LATITUDE NOITE, DE MOACIR COSTA LOPES
A ostra e o vento; Belona, latitude noite; Tempo na narrativa; Fantástico; Melancolia.
Moacir Costa Lopes estreou no cenário literário em 1959, com a publicação de Maria de cada porto. O romance, que explora com profundidade a temática marítima, na época pouco comum nas letras nacionais, foi recebido com apreço pela crítica de então, que destacou, além desse aspecto inovador, o manejo diferenciado a que o autor submeteu a categoria narrativa do tempo. De fato, a preocupação com a temporalidade se mostra evidente em toda a literatura de Lopes, podendo-se, inclusive, apontar o uso experimental desse elemento como marca estética da produção ficcional do autor, que procurou manipular o tempo de forma diferenciada em todos os seus romances, ora em maior ora em menor grau. Será em A ostra e o vento (1964), e depois em Belona, latitude noite (1968), respectivamente quarto e quinto romances de Moacir, que o tempo se insurgirá como elemento central nas narrativas, sendo explorado com engenho pelo autor no âmbito estrutural e no âmbito temático. Nesse sentido, este estudo objetiva analisar o tempo nos dois últimos romances citados, tanto no que diz respeito à configuração estrutural desse elemento nas narrativas em questão quanto no que se refere à exploração de temáticas a ele associadas, como solidão, memória e finitude. Além disso, procuramos entender a relação que se estabelece, nas duas obras, entre o tempo e o fantástico e entre o tempo e a melancolia, aspectos de absoluto relevo no corpus selecionado. Fundamentam nossa análise os estudos de Gérard Genette (1979), Benedito Nunes (1988) e A. A. Mendilow (1972) acerca do tempo na narrativa; de Tzvetan Todorov (2008) e Remo Ceserani (2006) acerca do fantástico na literatura; e de Moacyr Scliar (2003) e Luiz Costa Lima (2017) acerca da melancolia como recurso estético, além de outros autores.