O CORPO (DES) CRUCIFICADO: REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE EM A VIA CRUCIS DO CORPO DE CLARICE LISPECTOR
Clarice Lispector, gênero e sexualidade, literatura feminista, patriarcalismo, cânone literário.
A presente dissertação pretende investigar de que modo os discursos de gênero e sexualidade são representados na coletânea de contos A via crucis do corpo (1991), de Clarice Lispector (1920-1977). Esse livro, que explora explicitamente a sexualidade humana, sobretudo a feminina, é considerado pelos críticos como de pouco valor literário visto que destoa de toda a obra clariceana, a qual tem como tônica a introspecção. Torna-se necessário, pois, estudos mais aprofundados acerca dessas micronarrativas que, embora díspares da estilística da escritora, problematizam de forma contundente o sistema patriarcal vigente. Optamos por selecionar dois contos, Ele me bebeu e Praça mauá, os quais, para a análise que pretendemos fazer, foram mais representativos no que tange aos discursos de gênero e sexualidade. Para tanto, buscamos como marco teórico os estudos sobre literatura e sociedade de Antônio Cândido (1976) propondo uma crítica integradora que analise como os elementos externos à obra se estruturam no interior da narrativa. Adotamos como aporte teórico também as contribuições de Foucault (2015) sobre a sexualidade humana, bem como de Judith Butler (2010) que questiona os estudos feministas tradicionais os quais se limitam à reprodução das identidades binárias de gênero (feminino/masculino) e sexualidade (heterossexual/homossexual).