O leitor de comunidades de literatura seriada: uma construção identitária sem fronteiras?
Comunidade de Leitores; Identidade, Linguagem; Literatura; Sagas; Coleções.
O ato de ler mobiliza, para os tons diversos da escrita, o olhar de quem o faz e lhe permite apropriar-se da ideia alheia, do universo criado, da visão comum, da beleza, ou mesmo da “deformação estética”, entre tantas outras disposições existentes na relação leitor/objeto. Esse, é ressignificado; aquele, reinventa-se, a partir do “toque” estabelecido. Quem, ou o quê teria incentivado, nutrido essa relação; em quais condições essa se desenvolve; ainda, se o conjunto de características de uma geração foi fator determinante para estreitar laços com a criatura literária também permeiam o construto deste fazer pesquisador. Ademais, o presente trabalho, debruçou-se, mais especificamente, sobre a tentativa de mapear traços identitários comuns entre os sujeitos pesquisados: leitores de literatura seriada, membros de comunidades criadas em torno desses volumes literários. A proposta é problematizar a identidade desses leitores e analisar o construto dessa, a partir dos elementos sociais que os cercam e que eles apontam como determinantes para uma redefinição de fronteira, entre o que lhe é apresentado como literatura “boa” e oficial e o que elegeu como a que responde agora às suas perspectivas. O estudo dessa identidade é individual, embora não possamos nos afastar da consciência de grupo que existe e que se põe como um dos fatores de coesão nas comunidades de leitores. Para tanto, um conjunto foi convidado a participar da pesquisa: Camp Half Blood (CHB). Dos vinte e sete questionários selecionados para este trabalho, dezesseis foram preenchidos por membros dessa comunidade. Outros dois conjuntos, Comunidade de Leitores da Escola Estadual Professor Francisco Ivo Cavalcanti (CLFIC) e Tributos e Divergentes (T&D), contribuíram para este fazer científico, respectivamente, da CLFIC, quatro questionários respondidos e do T&D, cinco questionários. Por se tratar de uma pesquisa de mestrado em estudos da linguagem, na área de estudos em Linguística Aplicada, na linha dos Estudos de Práticas Discursivas, buscou-se expor esse mapeamento, à luz das concepções de Bakhtin (1998, 2003) que considerou a linguagem como um constante processo de interação mediado pelo diálogo. À percepção do enunciado bakhtiniano, concreto, marcado por vozes, reuniu-se o conceito de forças centrípetas e centrífugas, também do referido autor. Encontraram-se, ainda, no campo da Linguística Aplicada, nesta pesquisa, o estudo das identidades modernas descentradas, ou fragmentadas, de Hall (2005) e a visão de Canclini (2006) sobre o ato de “descolecionar” e da contemporaneidade como construção histórica marcada pelos processos de hibridização. Tais orientações teórico-metodológicas possibilitam entender as comunidades de leitores como espaços construídos, conforme desejos/saberes/experiências de seus participantes, que lhes asseguram uma trajetória de leitura à revelia do que é socialmente valorizado como a “boa literatura”.