A APROPRIAÇÃO DO PODER HEGEMÔNICO DA CIÊNCIA EM REVISTAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: ESTRATÉGIAS SÓCIO-DISCURSIVAS
Análise crítica do Discurso; Discurso da divulgação científica; Construção simbólica; Sociedade e discurso da ciência.
A presente pesquisa pretende estudar a apropriação do poder hegemônico da ciência pelas redes editoriais de divulgação científica. Para tal, o objetivo geral está pautado em discutir as estratégias sócio-discursivas empregadas pelas redes editoriais da divulgação científica para apropriação do poder hegemônico da ciência, considerando, nessa dinâmica, os modos de construção simbólica através dos quais, estas constituem-se em sistemas peritos. Assim, analisaremos uma materialidade discursiva composta a partir de um corpus semiestruturado de 16 exemplares coletados. Os veículos de divulgação científica, ao tomar a voz da ciência para si, passam a usufruir de controle e prestígio social exercidos pelo próprio discurso científico em detrimento da sociedade classificada como “leiga” na relação com o saber e método científico. Portanto, as redes editoriais que sustentam as revistas de divulgação da ciência tem, tal qual um lócus privilegiado de excelência técnica, regulamentado a vida material dos cidadãos, agindo como um Sistema Perito, como designou Giddens (1991, 2002). Dessa forma, as pessoas estão envolvidas em diversos sistemas que dominam, organizam e, de certa forma, sugerem modos de vida. São sistemas importantíssimos nos quais todos depositam confiança. Assim sendo, o termo ‘ciência’ encapsula metaforicamente esses sistemas socialmente legitimados e as revistas de divulgação da ciência têm buscado usufruir dessa legitimidade, como se dela fosse parte a fim de sobreviver no mercado editorial brasileiro. Por isso, faz-se importante entender como o domínio do discurso científico, tanto quanto o da divulgação científica proporciona acesso a recursos materiais e instâncias de poder. A pesquisa está fundamentada principalmente na Análise Crítica do Discurso, a partir do marco analítico proposto por Fairclough (2001 [2008], 2003), Chouliaraki e Fairlcough (1999), para aprofundamento das questões referentes à intertextualidade e hibridismo de gênero das práticas discursivas das redes editoriais da divulgação científica. A Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso, por sua vez, apontará a análise para as questões concernentes à Comunicação para a Mudança Social e aos tipos de poder, a partir de uma retextualização de Bajoit (2006) proposta por Pedrosa (2012, 2013). Buscamos ainda, revelar os mecanismos de naturalização que contribuem para a construção simbólica através dos modos de operação da ideologia descritos por Thompson (2009). E por fim, o conceito de confiança desenvolvido por Giddens (1991, 2002), nesse contexto, lançará luz acerca do esvaziamento de tempo e espaço como estratégia de universalização do discurso das revistas de divulgação científica. Metodologicamente, a pesquisa está situada em um paradigma qualitativo, inserido no âmbito das Ciências Humanas e Sociais, com foco na Linguística Aplicada (LA). A LA vem desenvolvendo diálogos com as teorias sociais críticas para a construção de um campo de estudos que extrapola a relação entre teoria e prática e leva em consideração todos os interactantes das situações estudadas. O resultado desenhou o perfil das duas principais publicações de divulgação científica do mercado brasileiro. Ficou demonstrado de forma clara que se trata de verdadeiras arenas discursivas. A dinâmica de funcionamento revelou mecanismos que contribuem para naturalização de um hegemonismo artificial a ser desempenhado por esse tipo de publicação. Essas dinâmicas e padrões revelados pelo corpus da pesquisa indicam a necessidade de uma maior e mais ampla discussão em torno dos veículos de divulgação de informações científicas.