O universo performático na escritura de Luciena carvalho
Hipermodernidade; Performance; Poeta-performer; Erotismo; Continuidade; Loucura.
Este trabalho tem por objetivo uma leitura crítica da obra poética de Luciene Carvalho, a partir do contexto da hipermodernidade e sob a perspectiva crítica dos Estudos de Performance. Com a finalidade de situar tanto os Estudos de Performance, quanto de caracterizar o tipo de sujeito multifacetado que ganha forma nos versos da autora estudada, realizamos inicialmente uma reflexão a partir de estudiosos, tais quais Gilles Lipovetsky (2004, 2005, 2015) e Zygmunt Bauman (1998, 2004, 2007a, 2007b, 2008) sobre a contemporaneidade, optando, então, por defini-la como hipermodernidade, uma nova era histórica que tem início em meados da década de 1990 e é entendida como sendo uma sucessão da pós-modernidade. Fruto dessas transformações de paradigmas, múltiplos contextos precisaram ser erigidos, o que também exigiu dos sujeitos novas reconfigurações em seu modo de conectar-se a esses espaços complexos e não poucas vezes contraditórios. É nesse ambiente multifacetado que o poeta-performer opta por uma atuação para além do modo usual de relação com a escritura e que redundará em suas performances, uma vez que estas – conforme pesquisadores como Azevedo (2004 e 2007) e Beigui (2011, 2012 e 2013) – partem da escrita como uma experiência (corpórea) sobre a qual inscreve suas textualidades. Ao multifacetar-se, por sua vez, o poeta-performer atrela-se às mais variadas e contraditórias personas, como aquelas que remetem ao erotismo, à religiosidade, à bruxaria, à Lilith ou à loucura, ressignificando cada um desses elementos conforme seu interesse. Focalizando de perto essas figuras, procuramos demonstrar que o erotismo de que o poeta-performer lança mão não se trata de uma prática sem vida ou vazia, mas conforme teorizou Bataille (2014), trata-se o erotismo de um substituto da religião na busca de alcançar a continuidade num tempo em que as verdades metafísicas estão enfraquecidas. Nesse sentido, a religiosidade formulada no decorrer dos textos de Luciene Carvalho tem, por um lado, aspectos de uma fé morta, ou seja, não transcendente, por outro lado, o poeta-performer associa-se a ícones pré-cristãos ou marginalizados dentro do cristianismo para elaborar um modo peculiar de relacionamento místico. Considerando essas características, a loucura da qual a autora também faz uso complexifica seu repertório performático num ambiente de confusa configuração. Assim, a loucura e seus desdobramentos funcionam, estrategicamente, como pontos de conexão e justificam as metamorfoses de um sujeito que almeja, de imbricadas formas, significar para o mundo a sua existência.