Identidade dO leitor DE literatura seriada, membro de comunidade:
Uma construção identitária sem fronteiras?
Comunidade de Leitores; Identidade, Linguagem; Literatura; Sagas; Coleções; ‘Descoleções’.
O ato de ler mobiliza, para os tons diversos da escrita, o olhar de quem o faz e lhe permite apropriar-se da ideia alheia, do universo criado, da visão comum, da beleza, ou mesmo da deformação estética, entre tantas outras disposições existentes na relação leitor/objeto. Esse, é ressignificado; aquele, reinventa-se, a partir do “toque” estabelecido. Quem, ou o quê teria incentivado, nutrido essa relação; em quais condições essa se desenvolve; ainda, se o conjunto de características de uma geração foi fator determinante para estreitar laços com a criatura literária também permeiam o construto deste fazer pesquisador. No entanto, o presente trabalho, debruçou-se mais especificamente sobre a tentativa de mapear traços identitários comuns entre os sujeitos pesquisados: leitores de literatura seriada, membros de comunidades criadas em torno desses volumes literários, relacionados à condição de apreciador dessas sagas. A proposta é descrever e analisar o construto da identidade desse novo leitor a partir do aparato social que o cerca e que ele aponta como determinante para sua redefinição de fronteira, entre o que lhe é apresentado como literatura boa e oficial e o que elencou como a que responde agora às suas perspectivas. O estudo dessa identidade é individual, embora não possamos nos afastar da consciência de grupo que existe e é um dos fatores de coesão nas comunidades de leitores. Para tanto, três conjuntos foram convidados a participar da pesquisa: Camp Hal Blood (CHB), Comunidade de Leitores da Escola Estadual Professor Francisco Ivo Cavalcanti (CLFIC) e Tributos e Divergentes (T&D). Pretende-se expor esse mapeamento, à luz das teorias de Bakhtin (1998, 2003) que considerou a linguagem como um constante processo de interação mediado pelo diálogo. À percepção do enunciado bakhtiniano, concreto, marcado por vozes, reuniu-se o conceito de forças centrípetas e centrífugas, também do referido autor. Encontraram-se, ainda, no campo da Linguística Aplicada, nesta pesquisa, o estudo das identidades modernas “descentradas, ou fragmentadas”, de Hall (2005), “constituídas historicamente, não biologicamente” e a visão de Canclini (2006) sobre o ato de “descolecionar” e da contemporaneidade como construção histórica marcada pelos processos de hibridização. Tais orientações teórico-metodológicas possibilitam entender as comunidades de leitores como espaços construídos, conforme desejos/saberes/experiências de seus participantes que lhes asseguram uma trajetória de leitura à revelia do que é socialmente valorizado como a “boa literatura”.