CRISES DO COTIDIANO EM MACHADO DE ASSIS E LUIGI PIRANDELLO:
UM ESTUDO COMPARADO
Machado de Assis, Luigi Pirandello, Essência, Aparência, Vida, Forma.
A presente tese se propõe a identificar possíveis aproximações e diferenças entre os romances Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), do escritor brasileiro Machado de Assis, e Uno, nessuno e centomila (1926), do escritor italiano Luigi Pirandello. Considerando que os dois autores ocupam lugar de destaque nas literaturas brasileira e italiana, respectivamente, e que ambos observaram e vivenciaram transformações marcantes em suas respectivas sociedades, o Brasil do período imperial, e a Itália pós risorgimentale, verificaremos como os dois, a seu modo, compõem uma arte literária na qual é possível alcançar a consciência social e moral de cada um. Procuramos alcançar, ainda, o sentimento de inquietação, de ansiedade, de medo, de dúvida, de interesse, de vaidade, de ambição, enfim, o desejo de ser das personagens, as quais representam o homem de final do século XIX e início do século XX, com características que apontam para o sujeito de identidade fragmentada, em busca de um lugar no mundo, mesmo que para conseguir tal lugar renuncie sua essência e adote uma aparência correspondente a todas as imagens que a sociedade lhe atribui. Os protagonistas Brás Cubas e Vitangelo Moscarda nos conduzirão pelas trilhas da consciência de cada um, as quais demarcam a fronteira da essência em desarmonia com a aparência. Críticos como Roberto Schwarz, Alfredo Bosi, Leone de Castris, entre outros, nos deram o amparo teórico necessário para um estudo comparado entre dois autores que, como poucos, souberam expressar, por meio de suas personagens, a difícil relação do homem consigo mesmo e com o universo que o circunda.