A RELAÇÃO ENTRE MEMÓRIA DE TRABALHO E COMPETÊNCIA LEITORA EM CRIANÇAS EM RISCO DE TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM DO PROJETO ACERTA:
Um estudo exploratório
Transtornos de leitura; Memória de Trabalho; Provinha Brasil
Ler e escrever é um direito essencial, que envolve dimensões individuais e coletivas; além de ser importante para o desenvolvimento socioeconômico e político, e para o aprimoramento do pensamento crítico e da participação ativa na sociedade (UNESCO 2005). Sob o ponto de vista neurobiológico, o cérebro não está pronto para a leitura, e esta prática deve ser adquirida deliberadamente através da instrução (DEHAENE 2009). No entanto, os transtornos de leitura e déficits em funções executivas, como, por exemplo, na capacidade de memória de trabalho, podem tornar essa atividade árdua e dificultosa. Buscamos com este estudo investigar o desenvolvimento da competência leitora de 45 alunos do terceiro ano do ensino fundamental da rede pública da cidade de Natal – RN e sua relação com a capacidade de memória de trabalho, através de informações da Provinha Brasil, de dados gerados a partir de testes de memória de trabalho (versão em português do AWMA – Automated Working Memory Assessment) e de medidas no teste de inteligência fluida RAVEN. Com base neste objetivo principal, procuramos responder às seguintes perguntas de pesquisa: (a) Quais as correlações existentes entre a memória de trabalho e os transtornos de leitura?; (b) O que caracteriza a relação entre baixa capacidade de memória de trabalho e risco de transtorno de leitura entre os participantes deste estudo?; (c) De que forma a memória de trabalho se relaciona ao construto de inteligência fluida aplicado neste estudo? Seguindo a metodologia de pesquisa quali-quantitativa (DÖRNEY, 2007), as Provinhas Brasil dos alunos do terceiro ano do ensino fundamental de seis escolas pertencentes ao Projeto ACERTA - Avaliação de Crianças em Risco de Transtornos de Aprendizagem (CAPES/OBEDUC)- foram analisadas e comparadas aos escores dos testes de memória de trabalho e inteligência fluida. Os resultados indicam que a competência leitora dos alunos em risco de transtorno de leitura está diretamente ligada à capacidade de memória de trabalho dos mesmos, principalmente no que diz respeito ao componente fonológico. Também se observa que os participantes com menos capacidade de memória operacional demonstram maiores dificuldades nas habilidades de leitura que demandam decodificação. Ainda, quanto à relação entre memória de trabalho e inteligência fluida, as correlações entre os dois construtos sugerem uma ligação estreita entre os mesmos. Pretendemos assim, contribuir para o diagnóstico dos transtornos de leitura e possíveis estratégias de intervenção.