O ETHOS NO DISCURSO LITERÁRIO: A IMAGEM DO LOUCO EM “CRÔNICA DA BANALIDADE”, DE CARLOS DE SOUZA
Discurso. Ethos. Loucura. Cenas de enunciação.
Crônica da Banalidade é um romance do autor norte-rio-grandense Carlos de Souza, cuja publicação, em 1988, aborda o tema da loucura, assim como outros romances o fizeram naquele período (“Recomendações a todos”, de Alex Nascimento e “Dotô, casa comigo?”, de Ruben G. Nunes). Neste estudo, analisamos a construção do ethos de louco na obra de Carlos de Souza. O ethos, segundo a Análise do Discurso (MAINGUNEAU, 2008, 2010 e 2012), implica um trabalho de interpretação de marcas de caráter, que correspondem a uma gama de traços psicológicos, e de corporalidade, que correspondem a uma constituição corporal, maneiras de se vestir e de se movimentar no ambiente social, mostradas por um enunciador, sugerindo uma imagem de si. Assim, a noção de ethos compreende um conjunto de determinações físicas e psíquicas ligadas pelas representações coletivas ao personagem do enunciador. A imagem que o leitor constrói do enunciador emerge a partir de indícios textuais de diversas ordens, dessa forma, com base na seleção lexical operada em “Crônica da Banalidade”, mostramos como a imagem do narrador-personagem “louco” se assenta na oposição loucura versus razão, reproduzindo o procedimento de segregação, típico das sociedades disciplinares (FOUCAULT, 2012), sociedades estas que selecionam, excluem e rejeitam os sujeitos que apresentam comportamentos ou discursos afastados da norma, exercendo, assim, um controle social e moral, simultaneamente. Para tanto, analisamos a emergência desse ethos de “louco” a partir das "cenas de enunciação" (MAINGUENEAU, 2012) da referida obra de Carlos de Souza, observando os "procedimentos discursivos de exclusão" que a cenografia do romance representa. Consideramos esse trabalho relevante para a consolidação de pesquisas em Análise do Discurso (AD), especialmente por trabalhar na interface entre a Linguística Aplicada e a Literatura, tendo em vista que o objeto teórico não é a língua, mas o discurso, sendo este último um lugar que articula língua, visões de mundo e subjetividade.